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Gravura do Tempo



Imagem de jorgeribas - Galeria Pixbay



Por entre raízes,

Siará:

Terra do Sol.
Natureza linda, perfumada e forte.
Onde os mares são verdes,
azuis e transparentes de Jeri.
Olhos de Yara. É bem tu Iracema.
Mãe terra, irmã natureza.
És nossa Senhora da Conceição.
O curupira que cuida dessas matas.
Terra de muitos rios e peixes
Muitas frutas e plantas.
Mas também:
secas, emaranhado cinzento,
parece petrificado.
Parece que padece: Fome.
A chuva cai pra todos, mas só
alguns possuem as terras. 
E o cinza das plantas
vão pro céu emprenhando as nuvens.
Nuvens abundantes parecem chumbo
e arreia-se democraticamente sobre nós.
 
O que era seco vira mata fechada
qualhada de vidas, ninhos, guaches de gias
procurando a amada da vez.
Brotam os frutos da terra.
A nossa terra prometida. Aqui há Siará.
Será, quando a tipoia debaixo do alpendre
balançar mais forte do que o retinido da moeda
em algumas poucas botijas de latão.

Salve Tupã.





Ser Feliz

Imagem: PixBay 


Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!
 

(Fernando Pessoa)



A finitude da vida





Hoje a causa
do caminho tomado
tangido no rebanho de gado
nessa vida sem pausa
acostumou-se ao cocho de sal
e a não depender da própria vontade
pra maioria a vida é uma publicidade
de uma vida ilusória que imagina ter.
Até que nos últimos instantes
a verdade invada a consciência do fim.
E todos os planos que deixaste passar
Vem atormentado com suas aparições,
com uma faixa – Não haverá retorno!
É daí então que nasce a angústia
De que tudo já se foi.
Nem o retorno, nem o sonho
faz sentido agora.
Pois é o fim.
Trata da realidade agora.


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🐆 Rio das Onças 🐆
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De’lírius em Sol ardente





O frio até faz de propósito, engrossa o ar e deixa tudo envolta meio embaçado.
Dar um clima perpétuo
e, me vem o absoluto silêncio
da rua. Sentir o vento gelado
passar pelo corpo. Terral,
que tocou gélido meus ancestrais.
 
Se soubessem do valor embutido
em cada detalhe manifesto da natureza
encheriam a alma, descobririam enfim, o coração.
O vento do Aracati prevalece, corre a casa lento,
assim como o tempo,
lento, mas leva.
Os botões da camisa abertos
As contas do rosário que há tempos
não escorre mais nos dedos da fé.
 
Vers. 10
 
E os gestos de tuas mãos imitando a dança
nasceria nessa árvore do tempo que cresce
sem que a gente sequer se aperceba
há quanto tempo estamos à sua sombra.
O dia amanhece mais uma vez ensolarado
Como se não bastasse o dia inventado pelo homem.
 
Abá afasta de mim esse ebó Pai.
 
 
Vers. 1,57 + 1,57 
 
Eu ganho meu dia em observar as coisas
da natureza, gosto da sua beleza diversa.
Já fui mais imaturo, hoje já sem pressa
Subordino o tempo ao limite da peça,
Terminada, recolho o figurino e parto.
Vou me balançar no vento Leste
orando a música de João do Vale

Os ventos aboiados entram pelas
porteiras do mar do Aracati.

Varrem toda a Ribeira.
Beija todas as cruzes. Depois
vai se aninhar por onde tem pedras
e veredas feitas de tempo.
Pois todos que pisaram ali, e
fizeram aquela vereda torta
já não passam mais por ela.
 
Tempo lento, mas passa
Vento ligeiro, se escassa.


***


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🐆 Rio das Onças 🐆

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Poema: Passado para o futuro



Imagem: PixBay

Naquela rua estreita aonde morei
onde vivi meus anos mais felizes
entre tantas brincadeiras que brinquei
O dia pintado de muitos matizes.
 
Dias felizes e outros nem tanto
é a vida ritmando em nós experiência
Um dia sorrisos, n’outro vem o pranto
daquela rua que moldou minha existência.
 
Essas lembranças que me vêm agora
trazem esse misto de dor e alegria
por lembrar esses tempos de outrora
por não voltarem só me resta a poesia.
 
Por outro lado, sorrio e faço festa
Sabendo que cada dia ainda é diferente
cá estamos, perdidos na floresta
esperando um futuro mais decente
 
Que país pode ter algum futuro
Com um povo acomodado, indiferente
Pelo fato de não sabermos o monturo
Que se formou do ódio inconsequente.

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🐆 Rio das Onças 🐆
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Poema da terra do Sol


Foto: Mauro Angeli




O dia amanhece, já vejo o céu laranja
brota o sol, grão,  pra se afirmar rei
Seu poder?! Fogo causticante é sua lei.
Sua ira traz morte, nisso bem se esbanja

A inclemência nata de sua tez, natura
É também vital pra uma vida plena
na sua dança de tempo, muda e serena
pra logo encher, rios, lavouras, fartura

Astro íntimo, gente morena do sol
cumpre a sina neste ritmo incessante
levantando antes da aurora radiante
abençoa. soa, entoa o canto do rouxinol.

Então este astro tão contraditório
que tanto brota a vida, como a tira.
Por vezes inflama uma cheia que retira
este povo sofrido, prece no oratório.

Por vezes seu bailar seca toda a vida
Espanta a chuva, pára o vento, abafa a dor.
Na triste solidão esperam algum horror
se aproxima a hora da ideia da partida.

Na trouxa as poucas roupas que tem
no bornal provisão pra enganar a fome
seca, solidão, trabalho é seu nome.
Chega em fim e explorado se mantém.

Êita! Nordeste, quantos filhos perdeu
terra seca, sede que consome e mata
os bichos que vivem soltos pela mata
sucumbem,  à morte, o tempo cedeu.

Até que, em um desses anos qualquer
a chuvarada cai pra dar-nos o gosto
há fartura, tem comida, sem desgosto
Fogão de barro, arrebol, o sino e a fé.

Não tem valor de dinheiro o cheiro
desta terra batida molhada,
O cheiro da mata encantada
produzindo o sibilar do terreiro

O som das aves, bichos do chiqueiro
o som do vento que assanha carnaúba
terra molhada, sons da lagoa me saúda
Memórias de pivete, brinca no terreiro.

Hoje o conversar já não faz sentido
só se for por mensagens recebido
o assunto pode até ser respondido
ligeiro, digital, sem ser comprido.

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🐆 Rio das Onças 🐆
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Tamborete na Cozinha, lendo um mestre


Foto: Berthold Brecht
- imagem compilada do Blog do Boi Tempo


Todos ou ninguém
Extraído do  endereço : "Navegações nas fronteiras do Pensamento"

1
Escravo, quem vai te libertar?
Aqueles que estão no fundo mais fundo,
Camarada, vão te ver.
E ouvirão o teu grito:
Os escravos vão te libertar.
 
Ninguém ou todos. Tudo ou nada.
Sozinho ninguém pode se salvar.
Fuzis ou correntes.
Ninguém ou todos. Tudo ou nada.
 
2
Faminto, quem vai te alimentar?
Se quiseres um pedaço de pão
Junta-te a nós, nós que temos fome
Deixe que te mostremos o caminho:
Os que têm fome vão te alimentar.
 
Ninguém ou todos. Tudo ou nada.
Sozinho ninguém pode se salvar.
Fuzis ou correntes.
Ninguém ou todos. Tudo ou nada.
 
3
Quem, vencido, quem te vingará?
Tu, que fostes golpeado
Junta-te às fileiras dos feridos
Nós em todas nossas fraquezas,
Camarada, vamos te vingar.
 
Ninguém ou todos. Tudo ou nada.
Sozinho ninguém pode se salvar.
Fuzis ou correntes.
Ninguém ou todos. Tudo ou nada.
 
4
Quem, perdido, que se atreverá?
Quem sua miséria não mais suporta
Pode, deve se juntar com aqueles
Que por necessidade cuidam
Para que seja hoje e não amanhã.
 
Ninguém ou todos. Tudo ou nada.
Sozinho ninguém pode se salvar.
Fuzis ou correntes.
Ninguém ou todos. Tudo ou nada.
 

Berthold Brecht

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🐆 Rio das Onças 🐆
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Códigos do Tempo



"Pesca das piranhas em Russas", 18/09/1859 - Russas/CE;
Autor: José dos Reis Carvalho - Aquarela; Museu Nacional/RJ.


Folha de papel pautado
útil enquanto foi útil, agora,
preenchido pelas letras do tempo
já não tem muita serventia, utilidade.
Ao contrário, incomoda. Toma espaço.
Agora feio, o papel não exala mais
o mesmo cheiro. O desgaste do tempo
envelheceu a sua pele, os seus escritos,
a sua aparência no mundo das aparências.
Agora incomoda diante de tantos drives modernos
muito mais atraentes, práticos... O tempo.
Sem o contato do próprio punho, a folha ganha
sua forma digital, e sai tão nítida e perfeita.
Mas, infelizmente não traz nos seus traços, intrínsecos
no manuscrito, os códigos pessoais do autor.
O suor da mão, o atrito com o papel,
a pressão na caneta sobre a folha.
Além do texto, guarda-se a alma e a identidade
de quem a escreve.

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🐆 Rio das Onças 🐆

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Gangorra enferrujada






Minha espada corta o que não é matéria
Os ventos mais ariscos são chamados de Caiporas
A Mula têm necessidades constantes.
A razão e a civilização espantaram todos
As palavras certas são aquelas que
dizem sinceramente o que se pensa.
 
Súplica não é coisa de gente
Cigarras se acasalam às seis da tarde
O mundo gira para dois lados
O lado bom não roda-moinho.
Moeda vale mais que vida
Matar é um bom negócio
Não vejo mais o sol nascer
Números eletrônicos pisam
na barriga de muitos.
No rio, peixes se adaptam ao veneno
Crianças marcham para o mundo virtual
Velhos tristes esperam a sua hora em silêncio
foram dispensados do “chate familiar”.
O álcool parece fazer graça
Temos dois mundos mas,
o pior sempre se mantém na sua estrutura.

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🐆 Rio das Onças 🐆
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Gerações perdidas

 

Iagem: Arquivo Pessoal

Adolescência, fase da vida onde a utopia
da liberdade parece real. Doce utopia.
A inexperiência da vida captura em
sonhos e devaneios enquanto a máquina
trabalha o dia inteiro para forjar seu futuro.

Aqui, poucos escapam da forrageira]
do destino.

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🐆 Rio das Onças 🐆
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Poema narrado: Retrato do Artista quando Coisa - Manoel de Barros




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🐆 Rio das Onças 🐆
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O Leite da terra







Meus olhos temperados de sertão

São como os olhos de coruja ao dia
—Igia, o sol me aturdia.
Como o vapor da terra que tremula o ar.
Vala-me sombra da tamarina,
sombra do juazeiro,
timbaúba, pau-pereiro,
pau d’árco, oiticica e castanheiro.
Cadê?!
Deixaram a terra nua.
Até a chuva, lembrança de menino,
Não cai com o mesmo gosto feminino
Farta e de tetas generosas.

Leite que dá vida a tudo.

Sumo, fôlego das raízes, intravenosa.
Incomparável, força grandiosa,
Tinta verde disfarçada de incolor.
Cai e se dar a todos plenamente, 
Sem precisar de atravessador.

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Oração do Cego no Tronco da Timbaúba






Este severo destino
Um dia atrás do outro, vai
Como passo de menino
Cai...
 
Não falo de dinheiro nem sorte
Um dia atrás do outro, cai
Neste incessante corte,
Vai...
 
Falo das coisas de fazer felicidade
Um dia atrás do outro, amai
Como se fosse necessidade
Cantai...
 
Não é permitido gemidos
Só os de prazer, cantai
Onde possam ser ouvidos
Amai...

Hider Albuquerque

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Tardio



Fachada antiga ainda preservada entre prédios modernos - Centro Russas


Já fui flores
e o mundo me
fez pedra.
Depois, precisei
ser terra, fogo, vento.
Agora invento,
que preciso ser
pedra de novo e
fazer brotar nova
flor
de uma pedra.

Hider Albuquerque

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Os móveis



Candeeiro, lampião e lamparina; Objetos antigos doados ao
Museu Pe. Pedro de Alcântara - Centro Cultural de Russas
- Foto: Diego Ferreira


No silêncio das manhãs vazias
Sou flagrado por mim explicando coisas
para pessoas inexistentes.
Os móveis continuam no rigor de seus lugares,
pacientes, prontos à cumprir suas sinas
de imobilidade perpétua.

Porém, seres vivos não.
Natureza é dotada de vida e não de estagnação.
Movimentos próprios, sentimentos diversos, diferentes
uns dos outros por cores, culturas, incontáveis desejos,
prazeres múltiplos e
incompreensíveis pela opaca compreensão
dos móveis inanimados.

Os brotos continuam eclodindo em meio
ao sereno frio do quase amanhecer.
Continua incessante.
Impossível impedir a natureza de florescer.
Por mais que muitos não queiram,
o amor nasce sem bater continência
e o humor abre portas, janelas e porões.



Hider Albuquerque


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🐆 Rio das Onças 🐆
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Códigos do Tempo

 


Folha de papel pautado
Útil enquanto foi útil, agora,
preenchido pelas letras do tempo
já não tem muita serventia, utilidade.
Ao contrário, incomoda. Toma espaço.
Agora feio, o papel não exala mais
o mesmo cheiro. O desgaste do tempo
envelheceu a sua pele, os seus escritos,
a sua aparência no mundo das aparências.
Agora incomoda diante de tantos drives modernos
muito mais atraentes, práticos... O tempo.
Sem o contato do próprio punho, a folha ganha
sua forma digital, e sai tão nítida e perfeita.
Mas, infelizmente não traz nos seus traços, intrínsecos
no manuscrito, os códigos pessoais do autor.
O suor da mão, o atrito com o papel, a pressão na caneta
sobre a folha.
Além do texto, guarda-se a alma e a identidade
de quem escreve.


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🐆 Rio das Onças 🐆
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Braseiro brasileiro


Minha espada corta o que não é matéria.
Gostaria de ver meu povo feliz.
Felicidade não é o agora por muito tempo.
Casulos gozam borboletas rapidamente.
Não querem quebrar nosso casulo.
Até o caixão, casulo final,
Finge que é bonito para a morte.
A televisão mostra capítulo a capítulo,
Nossa história capitulada no vazio.
O Marcador de tempo acorrenta tudo.
Arrastou muitas goelas e olhos esbugalhados.
A terra não é propriedade do Cão.
Criança, transforma casa em paraíso.
Tudo transforma em bom, se crês.
Não quero me encaixar na forma estabelecida.
Sou biodiversidade, sou cultura complexa.
Tríplice aliança dos genes.
Forte, adequado, sem pressa.


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🐆 Rio das Onças 🐆
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