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Poemas que são Livros

Imagem de Annette por Pixabay


Existem poemas que passamos a vida inteira, vez em quando, nos deparando com ele e voltamos a lê-lo. Em cada leitura, dependendo do estado que estamos vivenciando ou o grau de maturidade, ele se expressa e nos parece com uma faceta diferente.

O poema a seguir sempre fez parte do rol dos poemas que estiveram vez ou outra no raio das minhas leituras, tanto por sua profundidade, quanto por ser de autoria de Mário Quintana, um dos poetas que mais gosto. Porém, diante das experiências que por último tenho tido na vida, este poema/livro nunca fez tanto sentido.


O Tempo

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que o amo.
E tem mais: não deixe de fazer algo que gosta devido a falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

Mário Quintana


Poema de um grito silencioso

Imagem de Maik por Pixabay




E aquele Poema caiu
bem duro na tua cara e na dele.
A minha, foi fratura nazal, caiu na vertical em cima da venta. Porém
os dias passam pra todos e mesmo assim sinto que pra mim só existe aquele pensamento recorrente, persistente, recebido entre gritos e lágrimas a benzedura de sentir profundamente, que tudo que é vivo morre.
Você acredita que meus pais já se foram? Eles eram, entre meus pensamentos mórbidos sobre a morte, os personagens que se apresentavam mais dolorosamente. O medo de ficar sem eles me levaram a dezenas de pesadelos homéricos.

Partiram, exatamente quando eu já tinha deixado de pensar nisso.
Acanhado e ao mesmo tempo mortal
carinhoso e troglodita
O que me resta é viver essa mesma vida, vinda de tantas formas, mas perdida para a única certeza que se tem nesse mundo vão, a morte.
Esteeve qui por muitos muitos anos.


Hider.



Um poema, um Poeta



Foto valerioerrani por Pixbay


Os poemas são pássaros que chegam

não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso

nem porto;

alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar. 2005. p. 469



Gravura do Tempo



Imagem de jorgeribas - Galeria Pixbay



Por entre raízes,

Siará:

Terra do Sol.
Natureza linda, perfumada e forte.
Onde os mares são verdes,
azuis e transparentes de Jeri.
Olhos de Yara. É bem tu Iracema.
Mãe terra, irmã natureza.
És nossa Senhora da Conceição.
O curupira que cuida dessas matas.
Terra de muitos rios e peixes
Muitas frutas e plantas.
Mas também:
secas, emaranhado cinzento,
parece petrificado.
Parece que padece: Fome.
A chuva cai pra todos, mas só
alguns possuem as terras. 
E o cinza das plantas
vão pro céu emprenhando as nuvens.
Nuvens abundantes parecem chumbo
e arreia-se democraticamente sobre nós.
 
O que era seco vira mata fechada
qualhada de vidas, ninhos, guaches de gias
procurando a amada da vez.
Brotam os frutos da terra.
A nossa terra prometida. Aqui há Siará.
Será, quando a tipoia debaixo do alpendre
balançar mais forte do que o retinido da moeda
em algumas poucas botijas de latão.

Salve Tupã.





Ser Feliz

Imagem: PixBay 


Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!
 

(Fernando Pessoa)



A finitude da vida





Hoje a causa
do caminho tomado
tangido no rebanho de gado
nessa vida sem pausa
acostumou-se ao cocho de sal
e a não depender da própria vontade
pra maioria a vida é uma publicidade
de uma vida ilusória que imagina ter.
Até que nos últimos instantes
a verdade invada a consciência do fim.
E todos os planos que deixaste passar
Vem atormentado com suas aparições,
com uma faixa – Não haverá retorno!
É daí então que nasce a angústia
De que tudo já se foi.
Nem o retorno, nem o sonho
faz sentido agora.
Pois é o fim.
Trata da realidade agora.


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🐆 Rio das Onças 🐆
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Poema: Passado para o futuro



Imagem: PixBay

Naquela rua estreita aonde morei
onde vivi meus anos mais felizes
entre tantas brincadeiras que brinquei
O dia pintado de muitos matizes.
 
Dias felizes e outros nem tanto
é a vida ritmando em nós experiência
Um dia sorrisos, n’outro vem o pranto
daquela rua que moldou minha existência.
 
Essas lembranças que me vêm agora
trazem esse misto de dor e alegria
por lembrar esses tempos de outrora
por não voltarem só me resta a poesia.
 
Por outro lado, sorrio e faço festa
Sabendo que cada dia ainda é diferente
cá estamos, perdidos na floresta
esperando um futuro mais decente
 
Que país pode ter algum futuro
Com um povo acomodado, indiferente
Pelo fato de não sabermos o monturo
Que se formou do ódio inconsequente.

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🐆 Rio das Onças 🐆
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Poema da terra do Sol


Foto: Mauro Angeli




O dia amanhece, já vejo o céu laranja
brota o sol, grão,  pra se afirmar rei
Seu poder?! Fogo causticante é sua lei.
Sua ira traz morte, nisso bem se esbanja

A inclemência nata de sua tez, natura
É também vital pra uma vida plena
na sua dança de tempo, muda e serena
pra logo encher, rios, lavouras, fartura

Astro íntimo, gente morena do sol
cumpre a sina neste ritmo incessante
levantando antes da aurora radiante
abençoa. soa, entoa o canto do rouxinol.

Então este astro tão contraditório
que tanto brota a vida, como a tira.
Por vezes inflama uma cheia que retira
este povo sofrido, prece no oratório.

Por vezes seu bailar seca toda a vida
Espanta a chuva, pára o vento, abafa a dor.
Na triste solidão esperam algum horror
se aproxima a hora da ideia da partida.

Na trouxa as poucas roupas que tem
no bornal provisão pra enganar a fome
seca, solidão, trabalho é seu nome.
Chega em fim e explorado se mantém.

Êita! Nordeste, quantos filhos perdeu
terra seca, sede que consome e mata
os bichos que vivem soltos pela mata
sucumbem,  à morte, o tempo cedeu.

Até que, em um desses anos qualquer
a chuvarada cai pra dar-nos o gosto
há fartura, tem comida, sem desgosto
Fogão de barro, arrebol, o sino e a fé.

Não tem valor de dinheiro o cheiro
desta terra batida molhada,
O cheiro da mata encantada
produzindo o sibilar do terreiro

O som das aves, bichos do chiqueiro
o som do vento que assanha carnaúba
terra molhada, sons da lagoa me saúda
Memórias de pivete, brinca no terreiro.

Hoje o conversar já não faz sentido
só se for por mensagens recebido
o assunto pode até ser respondido
ligeiro, digital, sem ser comprido.

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🐆 Rio das Onças 🐆
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Sabedoria Popular - trecho do Poema "Natureza", Xangai

Declamação de um pequeno trecho do poema/canção: Natureza, de Xangai.




Segue abaixo a letra completa desta ode à natureza:


Natureza


É o céu uma abóbada aureolada
Rodeada de gases venenosos
Radiantes planetas luminosos
Gravidade na cósmica camada
Galáxia também hidrogenada
Como é lindo o espaço azul-turquesa
E o sol fulgurante tocha acesa
Flamejando sem pausa e sem escala
Quem de nós pensaria em apagá-la
Só o santo autor da natureza

De tais obras, o homem e a mulher
São antigos e ricos patrimônios
Geram corpos em forma de hormônios
E criam seres sem dúvida sequer
O homem após esse mister
Perpetua a espécie com certeza
A mulher carinhosa e indefesa
Dá à luz uma vida, novo brilho
Nove meses no ventre aloja o filho
Pelo santo poder da natureza

O peixe é bastante diferente
Ninguém pode entender como é seu gênio
Ele reserva porções de oxigênio
E mutações para o meio ambiente
Tem mais cartilagem resistente
Habitando na orla ou profundeza
Devora outros peixes pra despesa
Tem a época do acasalamento
Revestido de escamas esse elemento
Com a força da santa natureza

O poroquê ou peixe-elétrico é um tipo genuíno
Habitante dos rios e águas pretas
E com ele possui certas plaquetas
Que o dotam de um mecanismo fino
Com tal cartilagem esse ladino
Faz contato com muita ligeireza
E quem tocá-lo padece de surpresa
Descarga mortífera absoluta
Sua auto voltagem eletrocuta
Com os fios da santa natureza

A tartaruga é gostosa, feia e mansa
Habitante dos rios e oceanos
Chega aos quatrocentos anos
Para ela é rotina, é confiança
Guarda ovos na areia e nen se cansa
De por eles zelar como defesa
Nascido os filhotes com presteza
Nas águas revoltas já se jogam
Por instinto da raça não se afogam
E também pelo poder da natureza

O canário é pássaro cantor
Diferente de garça e pelicano
Papagaio, arara e tucano
Todos eles com majestosa cor
O gavião é um tipo caçador
E columbiforme é a burguesa
O aquático flamingo é da represa
A águia rapace agigantada
Eis o mundo das aves a passarada
Quanto é grande, poderosa e bela a natureza

A gazela, o antílope e o impala
A zebra e o alce felizardo
Não habitam em comum com o leopardo
O leão e o tigre-de-bengala
O macaco faz tudo mas não fala
Por atraso da espécie, por fraqueza
Tem o búfalo aspecto de grandeza
O boi manso e o puma tão valente
Cada um de uma espécie diferente
Isso é coisa também da natureza

E acho também interessante
O réptil de aspecto esquisito
O pequeno tamanho do mosquito
A tromba prênsil do elefante
A saliva incolor do ruminante
A mosca nociva e indefesa
A cobra que ataca de surpresa
Aplicar o veneno é seu mister
De uma vez mata trinta se puder
Mas isso é coisa também da natureza

No nordeste há quem diga que o carão
Possui certos poderes encantados
E que através de fenômenos variados
Prevê a mudança de estação
De fato no auge do verão
Ele entoa seu cântico de tristeza
E de repente um milagre, uma surpresa
Cai a chuva benéfica e divina
Quem lhe diz, quem lhe mostra e quem lhe ensina?
É somente o autor da natureza

Quem é que não sabe que o morcego
Com o rato bastante se parece
Nas cavernas escuras sobe e desce
Sugar sangue dos outros é seu emprego
Às noites escuras tem apego
Asqueroso ele é tenho certeza
Tem na vista sintoma de fraqueza
Porém o seu ouvido é muito fino
Também tem um sonar aparelho pequenino
Que lhe deu o autor da natureza

E admiro a formiga pequenina
Fidalga inimiga da lavoura
No trabalho aplicada professora
Um exemplo de pura disciplina
Através das antenas se combina
Nos celeiros alheios faz limpeza
Formigueiro é a sua fortaleza
Onde cada uma delas tem emprego
Uma entra outra sai não tem sossego
O quanto é grande e bonita a natureza

E a aranha pequena, tão arguta
De finíssimos fios faz a teia
Nesse mundo almoça, janta e ceia
É ali que passeia, vive e luta
Labirinto intrincado ela executa
Seu trabalho é bordado em qualquer mesa
Quem pensar destruir-lhe a fortaleza
Perderá de uma vez toda a esperança
Sua rede é autêntica segurança
Operária das mãos da natureza

A planta firmada no junquilho
Begônia, tulipa, margarida
As pedras riquíssimas da jazida
Com a cor, o valor, a luz, o brilho
A prata e o ouro cor de milho
O brilhante, a opala e a turquesa
A pérola das jóias da princesa
É difícil, valiosíssima e até
Alguém pensa ser vidro mas não é
É um milagre da santa natureza

E o inseto do sono tsé-tsé
As flores gentis com seus narcóticos
As ervas que dão antibióticos
A mudança constante da maré
A feiura real do caboré
No pavão é enorme a boniteza
Tem o lince visão e agudeza
E o cachorro finíssima audição
Vigilante mal pago do patrão
Isso é coisa da natureza

A cigarra cantante dialoga
Através do seu canto intermitente
De inverno a verão canta contente
E a sua canção não sai da voga
Qualquer árvore é a sua sinagoga
Não procura comida pra despesa
Sua música é sinônimo de tristeza
Patativa da seca é o seu nome
Se deixar de cantar morre de fome
Mas a gente sabe que é da natureza

Fonte: Musixmatch

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🐆 Rio das Onças 🐆
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Tamborete na Cozinha, lendo um mestre


Foto: Berthold Brecht
- imagem compilada do Blog do Boi Tempo


Todos ou ninguém
Extraído do  endereço : "Navegações nas fronteiras do Pensamento"

1
Escravo, quem vai te libertar?
Aqueles que estão no fundo mais fundo,
Camarada, vão te ver.
E ouvirão o teu grito:
Os escravos vão te libertar.
 
Ninguém ou todos. Tudo ou nada.
Sozinho ninguém pode se salvar.
Fuzis ou correntes.
Ninguém ou todos. Tudo ou nada.
 
2
Faminto, quem vai te alimentar?
Se quiseres um pedaço de pão
Junta-te a nós, nós que temos fome
Deixe que te mostremos o caminho:
Os que têm fome vão te alimentar.
 
Ninguém ou todos. Tudo ou nada.
Sozinho ninguém pode se salvar.
Fuzis ou correntes.
Ninguém ou todos. Tudo ou nada.
 
3
Quem, vencido, quem te vingará?
Tu, que fostes golpeado
Junta-te às fileiras dos feridos
Nós em todas nossas fraquezas,
Camarada, vamos te vingar.
 
Ninguém ou todos. Tudo ou nada.
Sozinho ninguém pode se salvar.
Fuzis ou correntes.
Ninguém ou todos. Tudo ou nada.
 
4
Quem, perdido, que se atreverá?
Quem sua miséria não mais suporta
Pode, deve se juntar com aqueles
Que por necessidade cuidam
Para que seja hoje e não amanhã.
 
Ninguém ou todos. Tudo ou nada.
Sozinho ninguém pode se salvar.
Fuzis ou correntes.
Ninguém ou todos. Tudo ou nada.
 

Berthold Brecht

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Códigos do Tempo



"Pesca das piranhas em Russas", 18/09/1859 - Russas/CE;
Autor: José dos Reis Carvalho - Aquarela; Museu Nacional/RJ.


Folha de papel pautado
útil enquanto foi útil, agora,
preenchido pelas letras do tempo
já não tem muita serventia, utilidade.
Ao contrário, incomoda. Toma espaço.
Agora feio, o papel não exala mais
o mesmo cheiro. O desgaste do tempo
envelheceu a sua pele, os seus escritos,
a sua aparência no mundo das aparências.
Agora incomoda diante de tantos drives modernos
muito mais atraentes, práticos... O tempo.
Sem o contato do próprio punho, a folha ganha
sua forma digital, e sai tão nítida e perfeita.
Mas, infelizmente não traz nos seus traços, intrínsecos
no manuscrito, os códigos pessoais do autor.
O suor da mão, o atrito com o papel,
a pressão na caneta sobre a folha.
Além do texto, guarda-se a alma e a identidade
de quem a escreve.

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🐆 Rio das Onças 🐆

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Gangorra enferrujada






Minha espada corta o que não é matéria
Os ventos mais ariscos são chamados de Caiporas
A Mula têm necessidades constantes.
A razão e a civilização espantaram todos
As palavras certas são aquelas que
dizem sinceramente o que se pensa.
 
Súplica não é coisa de gente
Cigarras se acasalam às seis da tarde
O mundo gira para dois lados
O lado bom não roda-moinho.
Moeda vale mais que vida
Matar é um bom negócio
Não vejo mais o sol nascer
Números eletrônicos pisam
na barriga de muitos.
No rio, peixes se adaptam ao veneno
Crianças marcham para o mundo virtual
Velhos tristes esperam a sua hora em silêncio
foram dispensados do “chate familiar”.
O álcool parece fazer graça
Temos dois mundos mas,
o pior sempre se mantém na sua estrutura.

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🐆 Rio das Onças 🐆
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Gerações perdidas

 

Iagem: Arquivo Pessoal

Adolescência, fase da vida onde a utopia
da liberdade parece real. Doce utopia.
A inexperiência da vida captura em
sonhos e devaneios enquanto a máquina
trabalha o dia inteiro para forjar seu futuro.

Aqui, poucos escapam da forrageira]
do destino.

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O Leite da terra







Meus olhos temperados de sertão

São como os olhos de coruja ao dia
—Igia, o sol me aturdia.
Como o vapor da terra que tremula o ar.
Vala-me sombra da tamarina,
sombra do juazeiro,
timbaúba, pau-pereiro,
pau d’árco, oiticica e castanheiro.
Cadê?!
Deixaram a terra nua.
Até a chuva, lembrança de menino,
Não cai com o mesmo gosto feminino
Farta e de tetas generosas.

Leite que dá vida a tudo.

Sumo, fôlego das raízes, intravenosa.
Incomparável, força grandiosa,
Tinta verde disfarçada de incolor.
Cai e se dar a todos plenamente, 
Sem precisar de atravessador.

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🐆 Rio das Onças 🐆
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Oração do Cego no Tronco da Timbaúba






Este severo destino
Um dia atrás do outro, vai
Como passo de menino
Cai...
 
Não falo de dinheiro nem sorte
Um dia atrás do outro, cai
Neste incessante corte,
Vai...
 
Falo das coisas de fazer felicidade
Um dia atrás do outro, amai
Como se fosse necessidade
Cantai...
 
Não é permitido gemidos
Só os de prazer, cantai
Onde possam ser ouvidos
Amai...

Hider Albuquerque

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Tardio



Fachada antiga ainda preservada entre prédios modernos - Centro Russas


Já fui flores
e o mundo me
fez pedra.
Depois, precisei
ser terra, fogo, vento.
Agora invento,
que preciso ser
pedra de novo e
fazer brotar nova
flor
de uma pedra.

Hider Albuquerque

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🐆 Rio das Onças 🐆
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Os móveis



Candeeiro, lampião e lamparina; Objetos antigos doados ao
Museu Pe. Pedro de Alcântara - Centro Cultural de Russas
- Foto: Diego Ferreira


No silêncio das manhãs vazias
Sou flagrado por mim explicando coisas
para pessoas inexistentes.
Os móveis continuam no rigor de seus lugares,
pacientes, prontos à cumprir suas sinas
de imobilidade perpétua.

Porém, seres vivos não.
Natureza é dotada de vida e não de estagnação.
Movimentos próprios, sentimentos diversos, diferentes
uns dos outros por cores, culturas, incontáveis desejos,
prazeres múltiplos e
incompreensíveis pela opaca compreensão
dos móveis inanimados.

Os brotos continuam eclodindo em meio
ao sereno frio do quase amanhecer.
Continua incessante.
Impossível impedir a natureza de florescer.
Por mais que muitos não queiram,
o amor nasce sem bater continência
e o humor abre portas, janelas e porões.



Hider Albuquerque


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🐆 Rio das Onças 🐆
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