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Um fragmento da música em Russas

 

Banda de música Euterpe São Bernardo - 1915; Imagem compilada do livro Russas: 200 anos de emancipação política - Limério Moreira da Rocha

Campelinho - Francisco Campelo Silva de Carvalho. Nasceu na cidade de Russas no dia 04 de maio de 1919. Era filho de José Carvalho e silva e Júlia Campelo e Silva. Era comerciante e músico. Casado com Maria Flora Pereira de Carvalho. Tiveram dois filhos: Francisco Roberto Pereira de Carvalho, conhecido como Boinha e Maria Cleuda Lima. Era integrante da Banda de Música Euterpe Afonso Lima nos anos 50. Tocava saxofone, instrumento que o levou a criar o conjunto musical “O Campelinho”, que animava as festas no vale jaguaribano nas décadas de 60 e 70. Faleceu em 08 de agosto de 1995.

Liduino Pitombeira - Começou seus estudos musicais aos doze anos de idade, tendo como professor Paulo Santiago (Paulinho dos Teclados). É um dos mais valiosos talentos de nossa música. Liduino Pitombeira (Russas, 1962) é doutor em composição e teoria musicais pela Universidade Estadual de Louisiana (EUA) onde estudou com Dinos Constantinides. Lecionou composição, orquestração e técnicas composicionais contemporâneas, de 2004 a 2006, na Universidade Estadual de Louisiana, onde já vinha atuando como instrutor bolsista desde 2001. 

Foi professor substituto de harmonia, contraponto e análise na Universidade Estadual do Ceará (1996-1998).  Estudou composição e harmonia com Vanda Ribeiro Costa (1985-91), Tarcísio José de Lima (1985-88) e José Alberto Kaplan (1991-98).  Durante doze anos (1986-1998) atuou como instrumentista e diretor musical do Syntagma, um grupo dedicado à performance e à pesquisa da música antiga e da música nordestina. Foi consultor de música da Secretária de Cultura do Estado do Ceará (1995-1997) onde elaborou e coordenou projetos como os da Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho e Quinteto de Sopros Alberto Nepomuceno. 

Suas obras têm sido executadas pelo Syntagma, Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho, Quinteto de Sopros da Filarmônica de Berlim, Louisiana Sinfonietta, Red Stick Saxophone Quartet, New York University New Music Trio, Orquestra Filarmônica de Poznan (Polônia) e Orquestra Sinfônica do Recife.  Recebeu importantes premiações em concursos de composição no Brasil, destacando-se o primeiro prêmio no I Concurso Nacional Camargo Guarnieri, por sua obra “Suite Guarnieri”, para orquestra de cordas, e o primeiro prêmio no Concurso “Sinfonia dos 500 Anos”, por sua tese de mestrado, “Uma Lenda Indígena Brasileira”, para orquestra sinfônica.

Em março de 2004 recebeu, nos Estados Unidos, o prêmio “2003 MTNA-Shepherd Distinguished Composer of the Year” (Compositor do Ano) por seu trio com piano “Brazilian Landscapes No.1”. É membro da ASCAP, Society of Composers Inc. e SBMC (Sociedade Brasileira de Música Contemporânea). Suas obras são publicas pela Cantus Quercus, Conners, Alry, RioArte, e Irmãos Vitale.

Maestro Orlando Leite – Sua formação aconteceu no Conservatório Alberto Nepomuceno, onde se formou em Bacharel em Violino. Durante muitos anos foi Maestro da Orquestra Sinfônica de Brasília. Atuou com sua regência em peças teatrais, como é o caso da peça “Valsa Proibida”. Diretor do Teatro José de Alencar e fundador do Coral e da Orquestra de Câmara da Secretaria de Cultura do Ceará. Foi Diretor do Conservatório de Música Alberto Nepomuceno. Na sua gestão foram reconhecidos pelo Conselho Federal de Educação, os cursos de Instrumento, Canto e Licenciatura.

Paulo Gomes Santiago – “Paulinho dos Teclados” - Diplomado como Organista Profissional pela Ordem dos Músicos do Brasil (OMB nº 3019). Desenvolveu em Russas o trabalho de Organista na Igreja Matriz no período de 1984 a 1989, onde participou de todas as festas religiosas promovidas pela Paróquia. Em 1990 criou o Curso Musical para Órgão Sintetizado e Guitarra Acústica, onde ensinou por 10 anos. Foi tecladista do programa de rádio “102 FM ao Vivo”, onde acompanhavam os artistas que se apresentavam. Harmonista da Banda de Música Maestro Orlando Leite. Além dos instrumentos acima mencionados, ainda executa Acordeom, Flauta e Cavaquinho. É Diretor Musical e Arranjador, além de compositor.

Banda Maestro Orlando Leite – Esta Banda foi criada em 1983, pelo então prefeito senhor Zilzo Leandro Evangelista. Teve como primeiro regente o Tenente Raimundo Alves Bezerra. Está Banda foi a responsável pela formação de vários músicos desde a década de 1980 até nossos dias.

Raimundo Alves Bezerra – O Maestro Bezerra, ou Tenente Bezerra, foi o primeiro regente da Banda de Música Municipal Maestro Orlando Leite. Inaugurada em 1983 pelo então prefeito Zilzo Leandro Evangelista.

Banda Juvenal – A Banda Juvenal, funcionava paralelo a Euterpe Afonso Lima, em 1914. Era patrocinada pelo senhor Juvenal Gonçalves e Joaquim Maciel. Foi dissolvida em 1920, quando o senhor Juvenal vendou o prédio onde ela funcionava para o seu irmão Aderson Gonçalves.

Orquestra Euterpe Afonso Lima - Essa Banda de Música teve seu embrião ainda no final do século XIX. No entanto somente em 1914 é oficialmente criada a Banda Euterpe São Bernardo, com instrumentos próprios. Na sua regência estava o senhor Afonso Lima, grande professor de Russas.

Com sua morte em 1927, passou a ser denominada Euterpe Afonso Lima. Apresentavam-se no coreto da praça, em desfiles, nas festas comemorativas e religiosas, assim como, no intervalo das exibições dos filmes no Cine-teatro. A partir da década de 1950 passou a fazer parte dos quadros administrativos da Associação Atlética e Cultural de Russas. Nesse período, seu presidente era o senhor Daltro Holanda e o Vigário era o padre Pedro de Alcântara.

O Vigário entendendo que o senhor Daltro Holanda fazia parte da Maçonaria, resolveu proibir qualquer apresentação da Banda Euterpe Afonso Lima na cidade de Russas. Com essa decisão, pouco a pouco, foi desaparecendo durante a década de sessenta. Sua formação e fôlego desde 1915 era a seguinte: [1] Vicente Leite de Oliveira; José de Carvalho e Silva; Delfino Delmiro Bezerra; Custódio Primo Guimarães; Vicente de Carvalho e Silva; Luís de Carvalho e Silva; Manoel dos Santos Lima Sobrinho; Antônio Delmiro Bezerra; João de Carvalho e Silva; João Roque; Cláudio Silva; Bonifácio Nogueira; Pedro Delmiro Bezerra; Afonso Lima.



[1] Rocha, Limério Moreira da; Russas: 200 Anos de Emancipação Política; Ed. Banco do Nordeste, 2001. Págs. 390, 391 e 392.






A prática de Aproveitar-se



Imagem Frank_Reppold  instagram.com/solarismutabor/Feel free to serve yourself. Your coffee - in Pixbay



A vida é surpreendente, principalmente, nesse modelo de sociedade em que estamos inseridos. Caso não tenha uma válvula de escape, somos levados a um estado doentio, de traumas e que vão se acumulando até se manifestarem fisicamente em forma de doenças.

Para que possamos viver uma vida mais saudável é necessário mais humanismo. Estamos vivenciando um período onde o egoísmo vem assumindo um caráter primordial para o empresário empreendedor de sucesso. Um estilo que não respeita os outros, está sempre pronto a atacar o outro, principalmente se o outro pensa diferente. 

Lembro que na pré-adolescência era estudado e incentivado o trabalho em equipe, o lema era "ninguém é uma ilha", entre outras ações na escola que reforçaram essa ideia de uma sociedade solidária.

Hoje, bem diferente, a ideologia neoliberal e seus modos de vida que giram em torno do aproveitar-se da ocasião. Aliás, aproveitar-se da ocasião vem sendo praticado no Brasil desde a formação das primeiras administrações da colônia.

Engana-se muito, quem usa a ideia do senso comum, montada pela História oficial, que o grande volume de presos e degredados que foram banidos para o recém Brasil foram responsáveis pela cultura do roubo. Esses não tinha meios e partiram, em muitos casos, para a formação de bandos de salteadores, isso quando não encontravam nenhuma ocupação.

Quem tinha os meios e as oportunidades eram os indivíduos que ocupavam os cargos da administração e seus representantes nas diversas hierarquias e cargos. Além disso, havia uma preocupação até do Bispado do Recife com relação as contas dos tributos coletados nas Paróquias.

Podemos observar esse fenômeno quando existe uma situação de emergência como foi na pandemia. O litro de alcoól custava aproximadamente R$  4,50, assim como vários produtos relacionados. Então, com a pandemia, o litro e álcool chegou a custar R$ 20,00. Esse é o aproveitar-se.

Temos também o exemplo do Rio Grande do Sul durante a catástrofe da enchete que matou e devastou cidades inteiras. Pessoas que se apoderaram das doações do governo para vender esses produtos aos desabrigados.

Aqui no Ceará, temos a comprovação da corrupção existente entre as mercadorias que eram levadas para os infames Redutos dos flagelados da seca de 1877/78/79. Foi compravado e ficamos estarrecidos com a crueldade dos fiscais dos Campos de Concetrçãoes que se aproitavam da situação para estuprar meninas, meninos e mulheres, por um prato de comida. Esse é o aproveitar-se dos brasileiros.

Recomendo o livro do nobre colega Cincinato Ferreira Neto na sua obra espetacular de pesquisa intitulada "A Tragédia dos Mil Dias - A seca de 1877-79 no Ceará". Infelizmente os últimos exemplares já estavam sendo vendidos, porém o autor me assegurou que tinha planos de outra tiragem deste trabalho já estava sendo pensado.

Muitas famílias hoje ricas, começaram suas fortunas nesses aproveitamentos, como é constatado a abertura de armazéns particulares com os produtos que seriam para o consumo dos flagelados.

Não sei se esse país ainda pode recuperar-se deste profundo trauma e do profundo costume que a nós foi imprimido. Passar por uma profunda depuração da sua mentalidade, não sei, que o futuro nos conte. Esse meu desconfiar está calcado no fato da solidez desse estamento sócio-cultural do Brasil.



             Pois penso que o desafio do Brasil é apagar essa sombra do individualismo neoliberal e começar a investir na humanização e colaboração de seu povo. Não haverá futuro para o Brasil que não passe pelo povo brasileiro.


Museu da Inquisição portuguesa - História, dor e resistência

Aqui estão algumas fotos de objetos e cenas, além de muita literatura sobre o assunto. A maleficência que aconteceu na Europa e na Ibéria contra os povos judeus, e seus caminhos para fugir da perseguição religiosa.


Uma grande Torá, que guarda alguns livros sagrados do judeus.

A fúria nos tempos da Inquisição Católica contra os judeus, transformou o ambiente social do país. Quase todos que não eram judeus começaram a observar os sinais em famílias suspeitas. A perseguição se dava a toda hora, a todo instante, o público e o privado estavam sob olhares dispostos a entregar os judeus para a Inquisição.

Suspeitavam daquelas famílias que não consumiam a carne de pouco, as horas das orações, as palavras contrárias à igreja de portugal e todos esses pontos da vida pessoal. Muitos foram delatados sem nenhuma prova do delator, apenas a indicação. Era muito fácil morrer nesse tenebroso tempo de perseguição.


Candelabro judaico, escondidos neste tempo, mas a busca da liberdade
de se aproximar e orar na sua própria crença.


O passado no Ceará Grande


Uma das casas mais antigas de Sobral
- Casa do Capitão-mor José de Xerez Furna Uchoa.

A casa do Capitão-mor José Xerez de Furna Uchoa, administrador do Ceará em 1748. Diversos objetos como porcelana, cerâmica e cachimbos antigos entre outros objetos foram achados em escavação antropológica feita pela Universidade Federal de Pernambuco. - Casa do Cap. José Xerez está localizada em Sobral - CE.

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Futuro.bomb.com



Foto: Guerra, Apocalipse - PixBay20 and. PixBay

Segunda década do século XXI e continuamos com um pé atolado nos primórdios da civilização, enquanto o outro pé está protegido pelas armas de tecnologia avançada. Controladas remotamente e com carga variada e letal. Diabolicamente elaboradas para levar explosivos                  diversos, ogivas, armas químicas e biológicas com alto poder de extermínio da vida.

Será este o nosso destino? Já sabemos que até hoje, depois da economia/capital, as guerras vêm sendo o pivô e a alavanca das novas descobertas e avanços sociais. Como no caso da medicina, engenharia, entre tantas outras áreas do conhecimento humano que tiveram suas maiores revoluções depois de se submeterem às tecnologias empregadas na indústria para fins armamentista.

Sendo assim, o objetivo final de todo esse conhecimento dito “humano” é a destruição, a morte, a fome, a sede... humanos completamente desabrigados, sem bens materiais. Tudo isso resume o objetivo deste conhecimento: a guerra. Um fim totalmente contrário ao humano, mas extremamente lucrativo.

Os Exércitos sempre foram decisivos e indispensáveis no movimento da história no decorrer dos séculos, porém, com o desenvolvimento da sociedade e do tempo em que está envolvida, evoluímos também nossos pensamentos. A grande maioria das gerações atuais são contra as ações militares, substituídas pelas conversas diplomáticas entre as partes envolvidas no conflito.

Esses aparatos militares e seus contingentes deveriam ser reduzidos, claro, com planos de reativação imediata por alguma emergência. Os gastos direcionados para essa área não são justificados, tanto pelo trabalho desenvolvido, quanto pelo retorno do objetivo desses trabalhos, que se concretizam na existência de uma guerra.

O Brasil é um país que até hoje só participou de uma única guerra. Não somos um país belicoso, agressivo ou que pretende um caminho de expansão territorial. O que justificaria essa existência da Força Nacional seria a Defesa da nossa Soberania Nacional e de nossas Riquezas Naturais, se por ventura formos atacados por outro país para este fim. Por ora, o Exército brasileiro tem agredido muito mais cidadãos de seu próprio país, do que estrangeiros.

A nossa Constituição determina a paz como caminho a ser seguido. As Armas, deveriam estar em repouso, como exemplo do Exército suíço, que não existe oficialmente, porém o treino o desenvolvimento de técnicas de ação de defesa e ataque aprendidos pelos cidadãos, capacita cada indivíduo a levar para casa um fuzil com munição, que deve manter a manutenção regular do equipamento e devida e se submeter a fiscalização.

Em caso de alguma emergência no Estado, cada cidadão, homens e mulheres, estão treinados e armados para defender o país. No entanto, não podemos fazer qualquer comparação com outros países, já que precisamos levar em consideração as distintas realidades de cada Estado.

Não podemos comparar o Exército alemão, com o Exército brasileiro. Pois não se trata só do Órgão Exército brasileiro, mas de todo o sistema constitucional e da superestrutura republicana do país. Seus cidadãos, dos seus funcionários, de seus carácteres, de suas morais, da ética com que dedicam seus trabalhos ao bem comum: público.

Em uma guerra, muito mais importante do que só equipamentos e armamentos eficientes. A inteligência é a coordenadora das ações decisivas mediante as estratégias, da criatividade, a capacidade de resolução de problemas em situação de estresse, para planejar e replanejar as melhores ações de guerra a serem tomadas.

Como esta ação não é estática, as mudanças de plano e rápidas tomadas de decisão, constituem a espinha dorsal da condução das Forças, diante do combate no front na cara de um outro Exército.

Acredito ser completamente ultrapassado esse modelo de decisão entre países. Somos nós seres realmente evoluídos?  

Continuando... estamos no século 21, será? Dentre todas as áreas da sociedade a única que não evoluiu no tempo foi, em sua forma, os Exércitos e a guerra.

Uma guerra é uma guerra não importa o tempo em que aconteceu. Por exemplo, em essência uma guerra no Egito antigo é igual a uma guerra acontecida hoje, como a que está acontecendo no Afeganistão. Os pontos fundamentais são os mesmos: interesses, discórdia, rompimento e retaliação.

Seria muito mais inteligente e barato, os representantes de cada país disputarem uma partida de xadrez. Quem ganhar leva. Brincadeiras à parte (mas não tão brincadeiras assim), temos a indústria armamentista que não vai deixar qualquer outro modelo anular a lógica em que ela sobrevive.

Essa indústria é a que mais tem lucros entre todas as áreas da economia. A movimentação de capital dessa indústria determina a “vontade” dos governos.


Essa deve ser a meta futura, mas que comece agora, de países inteligentes o suficiente para imporem suas vontades através da sua integridade humana – tá ruim. Isso realmente é utópico, mas não no sentido conceitual de Marx, e sim do entendimento de Émile Durkheim. Ou seja, é uma utopia (ou seja, impossível de acontecer) hoje, ou em dias vindouros.

Porém capaz e possível de acontecer em outro tempo futuro da história.
Enquanto isso, vamos levando essa realidade hipócrita e corrupta. Com essa sociedade de máscaras prontas, é preciso boiaaaarrr... e até diria Augusto dos Anjos: “O homem que vive nesta terra miserável, mora entre feras, sente inevitável necessidade de também ser fera”.

Não há como escapar da convivência, logo do contato, com seres que precisam ainda conquistarem o título de humanos. Porque seus atos e ações distorcem muito de suas máscaras sociais e discursos vazios.


Em frente.

Bento BarbaRussas

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Orós, 1960: O Ano em que o Rio das Onças engoliu o Vale


A parede rompida do açude Orós

O ano de 1960 foi o ano em que o Vale do Baixo Jaguaribe vivenciou a devastação causada pelo rompimento da barragem do açude Orós, no Ceará. Depois da sua construção, o Orós seria por muito tempo o maior açude do estado e um dos maiores do Brasil com uma capacidade estimada de 1,367 bilhão de m³ acumulados. 

Por volta das 00h50, primeiros minutos do dia 26 de março, horas antes da inauguração da obra, os trabalhadores do DNOCS, Órgão responsável, começaram a ouvir e sentir o som da tragédia que se aproximava.

A chuva completamente atípica de 752mm em três dias desembocou 730 milhões de m³ d'água acumulados no açude. Os relatórios também mostram que a água começou a passar por cima do sangradouro do açude as 22h15 do dia 25 de março, uma das maiores catástrofe se abateu sobre o Vale do Jaguaribe. Desabrigando mais de cem mil pessoas e matando muito mais do que mil vidas humanas, números oficiais.

O Orós, obra projetada desde a época do Império, começou sua construção no ano de 1920, depois parou e só foi retomada as obras e terminada no governo de Juscelino KubitschekAs falhas na estrutura do sangradouro começaram a apresentar rachaduras na parede.

Os jornais, rádios e aviões com boletins de aviso foram feitos à população, mas houve muita resistência. Chamaram os sertanejos de “teimosos”, no entanto esquecem que o povo nem sempre tem os mesmos interesses que os interesses do governo.

Os críticos da época, como os dos tempos seguintes, não conseguiam enxergar as realidades da vida daquele povo, suas lutas, alegrias e aflições. A criação, a vacaria, os animais de poleiro até a terra cultivada e já dando seus primeiros frutos.

É preciso compreender que as comunicações não eram tão fácil como hoje. Essas populações foram deixadas sem contato por séculos dependendo apenas de suas próprias forças e da vontade dos chefes políticos. Quem teria autoridade para expulsá-los de tudo o que tinham, de tudo que construíram? O povo sempre foi o último na escala de preocupações do Estado brasileiro.

Até hoje, dos textos que falam sobre a catástrofe, a grande maioria ressalta a “culpa” do povo do Vale do Jaguaribe de não querer sair da região que seria atingida. Mas, nunca procuraram os motivos pelos quais estes povos não queriam deixar seu mundo. Minha mãe era adolescente neste período e me contou o pavor das notícias no rádio e nos panfletos com mensagens apocalípticas.

 



Nas primeiras horas do rompimento foram desaguados pelo açude cerca de 425 milhões de metros cúbicos d’água em direção ao Rio Jaguaribe que por sua característica fluvial encheu seu leito e começou a invadir as suas margens, escorrendo para afluentes e a milhares de lagoas que se espalham pelo relevo da Ribeira do Jaguaribe.

 Foi registrada uma margem de 6km de uma margem à outra do leito. Tudo foi tomado pela tromba d’água inicial e volume que se seguiu nos dias seguintes.

Os dados oficiais da época dizem que o desastre tirou a vida de mil pessoas, porém, tendo em vista a impossibilidade de centenas de vítimas desaparecidas e que nunca foram achadas. Não acredito em um número tão baixo diante do tamanho da região e os mais de cem mil desabrigados. Além das percas das vidas de animais, lavouras, cemitérios, igrejas entre tantas coisas. Por erro humano, erro que nos faz questionar as responsabilidades não assumidas pelos responsáveis pela obra. Até hoje.



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A Lagoa da Caiçara

 

Lagoa da Caiçara, Russas CE

Izodi era como os antigos indígenas Tapuia chamavam a lagoa da Caiçara. Com a colonização dos portugueses e a influente presença da língua Geral a lagoa ficou sendo chamada de Caiçara. O significado de Izodi não é conhecido, já que os antigos moradores desses sertões tinham a necessidade de falar o tupi-guarani para a troca de mercadorias, alianças de guerra e agora para negociar com os portugueses.

Já o nome Caiçara significa uma estratégia de guerra utilizada pelos indígenas. Trata-se de grandes estacas de madeira fincadas no chão, escondidas nas descidas de barrancos entorno da lagoa. O inimigo era atraído para as armadilhas e no galope de seus cavalos caíam em cima das lanças ponteagudas.

A primeira observação sobre a posição estratégica da lagoa da Caiçara foi feita pelo capitão João da Mota e Pedro Lelou, afirmando que:

 “... Levantando um Forte Real, por nome São Francisco Xavier (1696), junto a Lagoa IZODI (Caiçara), para reprimir as hostilidades e entradas que o gentio costumava fazer, deixando o dito Forte acabado com todo o necessário, como muralhas e estacadas, guaritas, parapeitos e Quartéis, sem dispêndio algum da Fazenda Real...”[1]

 Com a chegada do Forte Real que tinha sua frente localizada aonde hoje estão algumas lojas na Avenida Dom Lino, próximo à Praça Monsenhor João Luiz, a lagoa Izodi passou a se chamar Caiçara. Ponto estratégico para conquistar estes territórios para a Coroa portuguesa. tinha na frente do Forte o riacho das Russas, e por trás a riqueza da lagoa da Caiçara, fonte d’água que podia resistir a até três anos de seca.

A lagoa da Caiçara brota de umas pedras que ficam do lado da BR 116 Rodovia Santos Dummont e percorre toda a cidade. Nos anos de bom inverno ela vai interligando várias lagoas, até se encontrar com o riacho Araibu na comunidade do Tourão. Em momentos de grande seca, como em 1790, 1816, 1877 e 1915, entre outros anos menos catastróficos, a lagoa da Caiçara foi um dos veios d’água que permitiu a existência do então arraial das Russas. Um grande reservatório natural em meio às riquezas e asperezas desse sertão jaguaribano.

Atualmente a lagoa da Caiçara está reduzida a uma pequena parte do que foi no passado. A cidade cresceu e engoliu suas margens e cortou seu curso, mesmo assim, em anos de muita chuva ela tenta se unir alagando alguns bairros da cidade de Russas. É necessário que o município esteja sempre imbuído na manutenção e preservação do eco-sistema que ainda resiste às ações degradantes do homem.

 

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Bibliografia

ROCHA, Limério Moreira da. Russas: 200 anos de emancipação política, Ed. Fortaleza Banco do Nordeste, 2001.

ROCHA, Limério Moreira da. Russas: sua Origem, sua Gente, sua História. Ed. Recife Gráfica, 1976.

ALCÂNTARA, Pedro de. Capital e Santuário: miragens russano-nordestinas. Ed. IOCE, Fortaleza: 1986.



[1] ROCHA, Limério Moreira da. “Russas: 200 anos de emancipação política”; Ed. Fortaleza Banco do Nordeste, Fortaleza: 2001. Pág. 27.


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O projeto geopolítico para a América Latina - Audiência Pública


Trecho da Audiência Públia na Comissão de Finananças e Tributação da Câmara dos Deputados do dia 30 de agosto de 2023. 

Aula minuciosa com base em fatos históricos e números apontam o projeto que envolve manter os juros altos no Brasil se depender de um BC "independente" e muitas outras informações sobre o contexto geopolítico do Brasil e da América Latina hoje.

Fonte: Revista Fórum https://revistaforum.com.br/



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Massacre Indígena das Terras Russas

Polé: Ilustração do livro Russas: 200 anos

Logo após a instalação do Forte de São Francisco Xavier em 1696, onde hoje está localizada a cidade de Russas, no Ceará, começaram as novas formações das primeiras estruturas religiosas para aldear os indígenas de várias famílias de etnias diferentes no Vale do Jaguaribe.

No intuito de formar novos cristãos e usá-la como mão-de-obra semi-servil, usavam-se os mais variados meios de tortura e desmoralização do indivíduo e das famílias como punição pelas faltas cometidas segundo o ponto de vista cristão.

Como podemos observar em Limério[1] a constatação da existência de uma polé em Russas instalada em 1701, instrumento de tortura tão terrível que só poderia ser erguido com a autorização do Rei ou do Papa, era uma das paisagens encontradas bem ao lado do Forte.

“Muitos guerreiros indígenas ou revoltosos preferiam o suicídio a ter que passar pelas horas ou dias intermináveis dos sofrimentos provocados pela polé.” (Rocha, 2001)

Havia o aldeamento denominado Aldeia Velha em Itaiçaba e o outro que foi instalado nas proximidades da atual cidade de Morada Nova e chamava-se Aldeia de Nossa Senhora das Montanhas. Todas sob o comando do Pe. João da Costa, acusado por seus contemporâneos de fornecer mão de obra indígena para lavrar suas terras e as terras de parentes, além de vender mão-de-obra aos fazendeiros.

Assim como todos os proprietários de terras, o Pe. João da Costa combatia com fúria os indígenas que ainda moravam em suas tribos, alegando que estes lhe roubavam o gado e assassinavam cruelmente pessoas que se aventurassem em seus territórios. Escreveu ao Bispado de Recife/Olinda, ao qual Russas fazia parte, pedindo que enviasse tropas para combater de vez os últimos resistentes do domínio português na região. Ele não foi o único, vários proprietários de gado já faziam esta solicitação há anos.bb

Foram atendidos em 1699, quando chegou a Ribeira do Jaguaribe a Bandeira Paulista com quatrocentos homens bem armados e inúmeros guerreiros Janduins que acompanhavam os portugueses.  Comandados pelo famigerado bandeirante paulista Capitão de Campo Antônio de Morais Navarro, que se aquartelando no Forte de São Francisco Xavier, mandou convocar todos os indígenas Tapuias Paiacu da região jaguaribana, com o argumento de que receberiam um presente do Rei, e também levassem suas mulheres e filhos para verem a honra que os indígenas iriam receber.

Tal foi a armadilha traiçoeira, que todos os aldeados, assim como, uma parte dos indígenas livres, rumaram para frente do Forte São Francisco Xavier. Eis que, ao se ter enorme quantidade de pessoas na frente do Forte, o capitão Navarro mandou que sua tropa atirasse sem piedade contra a multidão despercebida, dando ele mesmo o sinal com o primeiro tiro no principal Jenipapoaçu. Aqueles que tentavam fugir eram apanhados pelos Jandoins que estavam escondidos na retaguarda.

Quase todos os homens morreram e as mulheres e crianças que sobraram desse genocídio foram aprisionados e enviados para aldeamentos na Paraíba e Rio Grande do Norte. Centenas de índios morreram na emboscada. Esse ato foi tão repugnante e covarde que o Bispo de Pernambuco excomungou o Capitão Navarro. Tendo em vista o ardil criminoso que utilizou para matar aquele enorme número de pessoas inocentes.

O Pe. João da Costa foi um dos denunciantes de Navarro, embora tenha pedido força armada para combater os índios rebeldes, não contava que a estratégia de Navarro fosse o extermínio definitivo dos indígenas da ribeira do Jaguaribe. Não contava, sobretudo, que os índios de suas aldeias ou seus trabalhadores não remunerados, fossem atentados e caíssem nesta armadilha.

Depois que Russas recebeu a denominação de Paroquiato com suas Freguesias, erguendo sua primeira igreja em 1707, a comunidade colonial russana já gozava de certo aparelhamento burocrático de controle do Estado português, leia-se (rei/papa). Embora ainda houvesse alguns ataques aos sítios da sede da Freguesia de Nossa Senhora do Rosário das Russas que perdurariam até a segunda década do século XVIII. O povoado germinava em oficinas, comércios e principalmente nas feiras que ofereciam mercadorias de outras províncias. O núcleo urbano da atual cidade de Russas começava a ganhar forma. Mas, sem dúvida Russas foi consolidada pela força econômica da pecuária.



[1] ROCHA, Limério Moreira; Russas 200 anos de Emancipação Política; Ed. Fortaleza Banco do Nordeste, 2001; pág. 49.



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La Matanza Indígena de las Tierras de Russas


Poco después de la instalación del Fuerte de São Francisco Xavier, en 1696, donde hoy se encuentra la ciudad de Russas, en Ceará, comenzaron a instalarse las principales estructuras religiosas para asentar a los indígenas de varias familias de diferentes etnias en el Valle de Jaguaribe.

Para formar a los nuevos cristianos y utilizarlos como mano de obra semisierva se recurría a los más variados medios de tortura y desmoralización de individuos y familias como castigo por las faltas cometidas según el punto de vista cristiano.

Como podemos comprobar en Limério, la existencia de un polé en Russas, instalado en 1701, un instrumento de tortura tan terrible que sólo podía erigirse con la autorización del Rey o del Papa, era una de las curiosidades que se encontraban junto al Fuerte.

"Muchos indígenas guerreros o rebeldes preferían el suicidio a tener que soportar las interminables horas o días de sufrimiento provocados por la polea". (Rocha, 2001)

Hubo un asentamiento llamado Aldeia Velha en Itaiçaba y otro que se estableció cerca de la actual ciudad de Morada Nova y se llamó Aldea del Nuestra Señora del la Montaña. Todas bajo el mando del padre João da Costa, acusado por sus contemporáneos de suministrar mano de obra indígena para trabajar sus tierras y las de sus parientes, así como de vender mano de obra a los campesinos.

Como todos los terratenientes, el padre João da Costa luchó furiosamente contra los indígenas que aún vivían en sus tribus, alegando que robaban su ganado y asesinaban cruelmente a las personas que se aventuraban en sus territorios. Escribió al obispado de Recife/Olinda, al que pertenecía Russas, pidiéndole que enviara tropas para combatir de una vez por todas a los últimos reductos del dominio portugués en la región. No fue el único; varios ganaderos llevaban años haciendo esta petición.

Se les concedió en 1699, cuando la Bandeira Paulista llegó a Ribeira do Jaguaribe con cuatrocientos hombres bien armados e innumerables guerreros janduinos acompañando a los portugueses.  Comandada por el tristemente célebre bandeirante paulista, el capitán de campo Antônio de Morais Navarro, acuartelado en el fuerte de São Francisco Xavier, ordenó convocar a todos los indígenas Tapuias Paiacu de la región del Jaguaribe, con la excusa que recibirían un regalo del Rey, y también que llevaran a sus esposas e hijos para mirar el honor que recibirían los indígenas.

Tan traicionera fue la trampa que todos los aldeanos, así como algunos de los indios libres, se dirigieron hacia el Fuerte São Francisco Xavier. Cuando hubo una gran multitud frente al fuerte, el capitán Navarro ordenó a sus tropas disparar sin piedad contra la multitud inadvertida, dando él mismo la señal con el primer disparo contra el Jenipapoaçu principal. Los que intentaron huir fueron alcanzados por los jandoins que se escondían en la retaguardia.

Casi todos los hombres murieron y las mujeres y niños que quedaron de este genocidio fueron encarcelados y enviados a pueblos de Paraíba y Rio Grande do Norte. Cientos de indios murieron en la emboscada. Este acto fue tan repugnante y cobarde que el obispo de Pernambuco excomulgó al capitán Navarro. En vista de la artimaña criminal que utilizó para matar a ese enorme número de inocentes.

El padre João da Costa fue uno de los denunciantes de Navarro. Aunque pedía la fuerza armada para combatir a los indios rebeldes, no se daba cuenta de que la estrategia de Navarro sería el exterminio definitivo de los indios del río Jaguaribe. Sobre todo, no esperaba que los indios en sus aldeas o sus jornaleros no remunerados fueran atacados y cayeran en esta trampa.

Después de que Russas fuera rebautizada como parroquia con su primera iglesia en 1707, la comunidad colonial de Russas ya contaba con un cierto aparato burocrático bajo el control del Estado portugués. Aunque todavía hubo algunos ataques a los lugares de la parroquia de Nossa Senhora do Rosário das Russas que duraron hasta la segunda década del siglo XVIII. En la ciudad surgieron talleres, tiendas y, sobre todo, ferias que ofrecían mercancías de otras provincias. El núcleo urbano de la actual ciudad de Russas empezaba a tomar forma. Pero, sin duda, Russas se consolidó gracias a la pujanza económica de la ganadería. 

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Russas em Ângulos: Uma história em fotos



Caminhão Misto (passageiro e carga) que fazia o transporte entre Russas e Fortaleza na década de 1950 - Foto: Memorial Fotográfico do Trasporte Coletivo de Passageiros do Ceará.


Em comemoração aos 222 anos de emancipação política de Russas - CE.

Créditos das Imagens: Mauro Angeli - Ivelto Silva - Diego Ferreira - Adriano Studio - Evandro Silva - Angélica Gonçalves - José Maria de Almeida - Fátima Gonçalves - Associação dos Transportes Públicos de Passageiros do Estado do Ceará.

Crédito Música: Efeito Tempo - Banda BEHÚ



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Contexto Histórico - 222 anos de emancipação política de Russas







Nesse ano de 2023, quando Russas e os russanos comemoram os seus 222 anos de emancipação política, gostaria de falar um pouco dessa história que tem algumas curiosidades. Acredito que é importante para o ensino da História Local que a gente coloque sempre um vínculo entre a nossa história, a história do Brasil e a do mundo neste mesmo período estudado.

O bojetivo é passar a ideia de que nós aqui em Russas e na nossa região estamos inseridos num contexto bem maior, fazendo com que o aluno amplie o seu olhar para a sua própria história. Um enredo maior, um processo de construção feito em disputas externas e internas, que influenciaram diretamente no desenrolar da nossa história local. Afinal, a data de 06 de agosto de 1801 envolve muitos outros eventos do Brasil colônia e na política da metrópole em Portugal.

­­Essa história começa algumas décadas antes da data comemorativa atual.

O ano de 1750 ficou na história oficial do Brasil e de Portugal como data da chegada à administração do Estado português de Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal. Título que só recebeu dezenove anos em 1769, ele foi o responsável pelas reformas que teve consequências diretas no Brasil, principalmente, depois do grande terremoto que devastou a capital Lisboa em 1755.


Terremoto de 1755 deixou entre 10 mil e 70 mil mortos e destruiu cerca de 85% das construções de Lisboa - Wikimedia Commons
Compliado da Página: Aventuras na Históira

A necessidade de ter mais controle sobre as colônias para angariar recursos se tornou a política de interesse número um de Portugal. Uma dessas medidas na mudança administrativa foi um decreto de criação de Vilas nas regiões de fluxo de produtos a serem taxados, retirando-as do controle absoluto da Igreja. Uma forma de alcançar os pontos mais inacessíveis para um maior controle e arrecadação.

Para a Freguesia da Ribeira do Jaguaribe veio um decreto para que o vigário conduzisse junto ao Capitão-mor do Ceará a criação de uma comissão para a eleição de uma câmara. O protocolo mandava que o vigário fixasse, como de costume, uma cópia do decreto na porta principal da igreja Matriz. Além de comunicados verbais depois das missas e nos locais públicos.

O Vigário na época, Manoel da Fonseca Jaime, apenas registrou na ata da paróquia sem usar outros meios de comunicar à população sobre o decreto. Não interessava a nenhuma das forças políticas local e da Capitania nessa emancipação, pois todos os outros cargos que faziam parte da administração da capitania já estavam bem acomodados com seus devidos apadrinhados políticos.

O fato é que naquele momento os olhos da administração portuguesa estavam voltados principalmente para os desvios nas recém-descobertas minas de ouro e pedras preciosas das Terras Gerais, futura Minas Gerais. Não se deu muita atenção a esta região do sertão cearense. O motivo do Pe. Manoel da Fonseca não querer a instalação da Vila era a divisão do poder do vigário, logo da Igreja, na administração desta freguesia.

Uma vez eleita uma câmara e oficializada a Vila, a Paróquia perderia completamente a administração de grande parte das riquezas produzidas pelos criadores de gado e movimentação de mercadorias. Passaria para as mãos do poder temporal, da chamada Câmara dos bons.

Depois de mais de três décadas, em 1798, a comunidade russana encabeçada pelo então vigário José Bernardo Galvão faz uma solicitação oficial e anexa toda a documentação anterior do processo de elevação ao termo de Vila. A posição favorável da Província de Pernambuco saiu no dia 16 de maio de 1799, com a documentação assinada do Termo de Vila, a qual deveria ser denominada como Vila de Santo Antônio do Ouvidor.

No entanto, mais uma vez os russanos têm que esperar por mais três anos. A questão é que naquele mesmo ano de 1799 foi decretada também a criação da Província do Ceará que deixou de ser apenas uma Capitania anexa à Província de Pernambuco. O ato anulou toda a documentação já feita pela jurisdição pernambucana.

Finalmente, somente em 06 de agosto de 1801 a Freguesia de Russas recebe os direitos de eleger seus representantes locais. É erguida a Vila de São Bernardo das Russas e como símbolo deste poder é erguido o pelourinho na grande área aberta na frente da Matriz do Rosário. Neste primeiro momento as eleições eram para os seguintes cargos: 3 vereadores; 01 Capitão das Armas; 01 Juiz Ordinário; 01 Juiz de Órfãos e 1 Procurador.

Depois de eleitos, os mesmos nomeavam pessoas para ocupar outros cargos administrativos não eletivos, como o Chefe de Quarteirão, o Meirinho, o grupamento armado da força pública e outros cargos daquele antigo modelo de eleições e os protocolos e cargos administrativos da época.

Vale ressaltar que o chefe político da Vila era eleito entre os três vereadores que escolhiam entre si aquele que assumiria o cargo equivalente hoje a prefeito e nem todos os moradores podiam votar ou ser votado. Esse privilégio só alcançava quem soubesse ler ou escrever e tivesse uma renda anual de mais de 100.000$00 réis, além de outras regras que beneficiavam somente os ricos proprietários ou membros da nobreza.

Assim ficou gravado na história de Russas o dia 06 de agosto de 1801. O início de uma nova realidade e novos desafios para a recém criada Vila de São Bernardo das Russas. Aliás, passar à Vila não era uma questão de um número populacional grande ou de grandes prédios de alvenaria na sede administrativa. Criar uma Vila era muito mais um protocolo administrativo para se obter oficialmente um maior conhecimento e controle das atividades de um local.

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