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Os Diferentes

Ilustração de RosZie cedido por Pixbay

Dica Webston Moura (Arcanos Grávidos)


Diferente não é quem o pretende ser. Este é um imitador do que ainda não foi imitado, mas nunca um ser diferente.

Diferente é quem foi dotado de alguns ‘mais’ e alguns ‘menos’ em hora, no momento e lugar errado. Para os outros. Que riem de inveja de não serem assim. E do medo de não agüentarem, caso um dia venham a ser. O diferente é um ser sempre mais próximo da perfeição.

O diferente nunca é um chato. Mas sempre é confundido com ele por pessoas menos sensíveis e avisadas. Supondo encontrar um chato onde está um diferente, talentos são rechaçados; vitórias são adiadas; esperanças são mortas.

Um diferente medroso, este sim acaba transformando-se num chato. Chato é um diferente que não vingou.

Os diferentes muito inteligentes entendem por que os outros não os entendem. Os diferentes raivosos acabam tendo razões sozinhos, contra o mundo inteiro. Diferente que se preza entende o porquê de quem o agride.

O diferente pago sempre o preço de estar – mesmo sem o querer – alterando algo, ameaçando rebanhos, carneiros e pastores. O diferente agüenta no lombo a ira do irremediavelmente igual, a inveja do comum, o ódio do mediano. O verdadeiro diferente sabe que nunca tem razão, mas que sempre está certo.

O diferente começa a sofrer cedo, desde o primário, onde todos os demais de mãos dadas, e até mesmo alguns professores por omissão (principalmente os mais grossos), se unem para transformar o que é peculiaridade e potencial, em aleijão e caricatura. O que é percepção aguçada em “ – puxa, fulano, como você é complicado”. O que é embrião de um estilo próprio em “ – Você está vendo como é que todo mundo faz?”

O diferente carrega desde cedo apelidos e marcações nos quais acaba transformando-se. Só os diferentes mais fortes do que o mundo se transformam nos seus grandes modificadores.

Diferente é o que vê mais longe do que o consenso. O que sente antes mesmo dos demais começarem a perceber. Diferente é o que se emociona enquanto todos em torno agridem e gargalham.

Diferente é o que: engorda mais um pouco; chora, onde outros xingam; estuda, onde outros burram. Quer, onde outros cansam. Espera de onde já não vem. Sonha entre realistas. Concretiza entre sonhadores. Fala de leite em reunião de bêbados. Cria, onde o hábito rotiniza. Sofre, onde outros ganham.

Diferente é o que: fica doente onde a alegria impera. Aceita empregos que ninguém supunha. Perde horas em coisas que só ele sabe importantes. Engorda onde não deve. Diz sempre na hora de calar. Cala sempre nas horas erradas. Não desiste de lutar pela harmonia. Fala de amor no meio da guerra. Deixa o adversário fazer gol, porque gosta mais de jogar do que ganhar.

Diferente é o que aprendeu a superar o riso, o deboche, o escárnio e a consciência dolorosa de que a mídia é má, porque é igual.

Os diferentes aí estão: enfermos; paralíticos; machucados; engordados; magros demais; bonitos demais; inteligentes em excesso; bons demais para aquele cargo; excepcionais: narigudos; barrigudos; joelhudos; de pé grande; feios; de roupas erradas; cheios de espinhas; os diferentes aí estão, doendo e doendo, mas procurando ser, conseguindo ser, ‘sendo’ muito mais.

A alma dos diferentes é feita de uma luz além. A estrela dos diferentes tem moradas deslumbrantes que eles guardam para os poucos que forem capazes de os sentir e entender. Nessas moradas estão os maiores tesouros da ternura humana. De que só os diferentes são capazes.

Não mexa com o amor de um diferente. A menos que você seja suficientemente forte para suportá-lo depois.



O hobby e o objeto da coisa



Imagem ilustrativa: https://unsplash.com/


Algumas pessoas tem o habito de ter um “hobby”. Alguma atividade no tempo de folga que seja feito somente por prazer pessoal. O de alguns é guardar palavras antigas, principalmente, os palavrões.

Acho todos muito engraçados, além do mais, usado hoje em dia não tem sentido pejorativo nenhum, a grande maioria das pessoas não identificam o palavrão como um insulto grave, compreendem apenas como sendo uma palavra que se usava antigamente, quando muito.

Como exemplo temos o palavrão “paspalho”, que significa uma pessoa inútil, tola, indivíduo insignificante. Outro que muito me agrada é o palavrão “ordinário”, mas são tantos. Como “cretino”, “patife”, “calhorda”, “alcoviteiro”, “energúmeno”, “palerma”, “pulha”, “sacripanta” entre tantos outros que estavam à disposição dos nossos ancestrais no desabafar de suas raivas e indignações.

Para alguns indivíduos, no entanto, não são as palavras e as suas atualizações no vocabulário para os nossos dias, mas, a ação em si realizada para dar ânimo e alma a esses palavrões. Aquelas criaturas que estão caminhando pela terra para serem as representações humanas que deram significado a tais palavrões.

Poderia existir uma persona tão desviada e afligida na alma que pudesse reunir em si todas essas deturpações da moral humana?

Ah... Se há! Há tantos quantos existem as mazelas do mundo. Esses cretinos, patifes, calhordas, alcoviteiros, energúmenos, palermas, pulhas, sacripantas... todos eles ou ele só, os mentirosos, dão impressão de maioria porque são os mais barulhentos.


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"O que a vida quer da gente é coragem" - Riobaldo. Grande Sertão: veredas

 


Depois de longa data desde a última publicação volto pra dar continuidade a este registro. Como diria Cazuza: "...os dados ainda estão rolando".

O primeiro passo foi decidir em relação ao rumo que tomaria. A dúvida era: será que é melhor sair ou ficar na cidade onde moro há quarenta e nove dos meus cinquenta anos de existência? Foi nessa reflexão que senti a minha ligação com a terra que me criou. Aqui conheço pessoas, conheço as paisagens, conheço o arrebol ao ocaso, ainda conheço os aromas das noites e madrugadas e os sinais de chuvas vindas dos astros, da atmosfera e da vida ainda natural, como os insetos e pásaros. Enfim, aqui me identifico como pessoa, me recheço na cultura da natureza do Vale do Jaguaribe.

A busca passou a ser por um lugar onde fosse o mais longe do núcleo urbano possível, mas também não tão distante para viagens diárias. Não foi uma tarefa fácil, mas consegui encontrar um pedacinho de terra onde se pode ver mais paisagens naturais, um lugar pra  me exercitar através da agricultura com a esperança de que possa começar a me equilibrar a um ritmo mais natural, mais saudável e sadio. Onde dar uma volta pela rua ou simplesmente me esticar um pouco na rede com a janela do nascente aberta. Inspiração pra mim e paz... um pouco de paz de espírito, se possível.

Embora as feridas abertas na caminhada tenham sido profundas, sei que me acompanharão aonde eu for. Mas ter um espaço como válvula de escape será bom. A casa é antiga, pelo que pude ouvir do vendedor, ela tem mais de cem anos e sua construção, com a exceção de duas construções, sendo uma garagem de terra batida e paredes de tijolo queimado e um banheiro atrás da casa. O restante da construção é feita essencialmente de tijolos de adobe e massa de areia, capim, barro e talvez cal. Os caibros e as linhas de sustentação são feitas com toras de carnaúba, uma palmeira abundante na região e muito utilizada para esse fim.

Carnaubal: a carnaúba é uma árvore
resistente as secas e a terrenos alagados. Carnaúba vem du tupi, que quer dizer "árvore que arranha". Depois da colonização ficou conhecida como árvore da vida.

A casa está em péssimo estado de conservação, embora acredite que possa ser reformada sem muitos problemas. Preciso levar alguém com intuição e conhecimento nesse de tipo de construção o que não é fácil aqui na minha região. Ao lado da casa tem um terreno de 45m X 20m de largura, algumas carnaúbas e nem um outro tipo de vegetação típica, embora na frente da casa tem um pé que acácia de flores amarelas. Na frente também tem uma calçada de cimento queimado, igual ao piso da casa, cercado por uma mureta e um portão de ferro pequeno.

Agora vem os desafios de reformar a casa e deixá-la em melhores condições, o que vai ter que esperar até diminuirem as contas que passaram do limite. Porém, como diz a frase do personagem Riobaldo no brilhante romance de Guimarães Rosa: "O que a vida quer da gente é coragem".

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Mudança + Transformação = recomposição do ser

 




Aqui cheguei, na cidade que atualmente moro, com pouco mais de um ano de idade. Cresci e me criei por esses sertões jaguaribanos, mas sempre em um núcleo urbano. Povo bom e como é característica de todas as regiões do nordeste do Brasil, têm uma solidariedade incomum a outras regiões.

Essa característica que surgiu pela necessidade da comunidade se unir e trabalharem juntos, através dos mutirões para construírem casas e consertar estradas, nos serões, na defesa da comunidade, na sobrevivência às secas e as enchentes.

Era quando a comunidade se envolvia especificamente em auxiliar outro membro da comunidade a debulhar suas bajas de feijão e espigas de milho, nas colheitas, descascar o arroz, no corte da cana-de-açúcar, passar noite e boa parte da madrugada nas torras das farinhadas etc.

A necessidade de retorno à essas origens parecem apontar o caminho que a humanidade precisa fazer para conseguir, ou pelo menos tentar, fazer um retorno civilizacional na direção oposta a que hoje se apresenta. Mudanças climáticas, fenômenos naturais atípicos, inundações, secas e a busca incessante e devastadora dos recursos naturais.

Esse modelo de "desenvolvimento" nada mais é do que a exploração de utensílios, máquinas e objetos que seriam perfeitamente dispensáveis para uma sociedade saudável viver com tranquilidade e harmonia. O consumismo cria objetos fúteis apenas pelos fins comerciais. O lucro.

Para mim pessoalmente é uma questão de continuar vivo, continuar tendo sonhos e planos. Afinal, esses são os propulsores do que chamamos vontade de viver. O cansaço com a mesquinhez de alguns seres humanos, a falta de caráter, a miudeza de espírito de pessoas que vivem a vida inteira apenas na superfície, na planície do conhecimento humano, ou pele menos, que consideramos dignos de serem chamados pelos títulos que possuem.

Sinto em muitos momentos, como aqueles meus ancestrais que falei, estou à beira do fim e sem mais nenhuma perspectiva sobre o futuro. Andava assim quando voltei a assistir alguns vídeos de pessoas que saíram de seus trabalhos para se dedicarem a alguma atividade rural, no entanto, não se aplica a mim por vários motivos, mas principalmente pelo trabalho.

Posso perfeitamente conviver no trabalho e desenvolver um trabalho no campo que seja paralelo, estou (pensando alto agora) disposto a diminuir minha carga horária e ganhar menos para alcançar esse objetivo. Quanto vale uma vida saudável e pacífica?

Por ter passado a vida inteira morando no sertão pensava em ir para um lugar completamente diferente, como no caso de uma serra. Pois meu pai e seus familiares são todos originariamente serranos da Meruoca e da serra do Rosário, mas existem outras questões como a distância do lugar para a capital do estado, onde mora a minha filha.

Pensei em seguida no Maciço do Baturité, pela proximidade com a capital ou para as bandas da família da minha mãe, assim como ela mesma, é de uma cidade do litoral leste do Ceará, porém fica na mesma região onde estou hoje. Então os roteiros principais são esses, em uma dessas eu gostaria de me estabelecer. Começar uma nova jornada aos cinquenta nos de idade.

Uma característica importante pra mim, além da pacificidade do local, também deve ser a questão cultural e ambiental. Nesse ponto o lugar deve ter no mínimo, um povo disposto a proteger suas memórias, as histórias e onde o poder público do município tenha o mínimo de interesse necessário para desenvolver uma atividade permanente que inclua a Cultura e o Meio Ambiente do município como uma de suas prioridades (sonho).

Hoje já não sou tão novo e saudável, minha maior preocupação é não ter mais o ânimo e a mesma força para viver e realizar os planos como tinha antes. São dezenas de detalhes, desde mudança de endereço e todo o inconveniente burocrático da atual vida em sociedade. Uma mudança dessas também envolvem, no meu caso, a minha mulher, que trabalha e tem seus planos pessoais também.

Não sei o que acontecerá, mas não creio que a minha vontade de mudar não exista mais. Existe e cobra de mim todos os dias, desde do amanhecer ao fim do dia. Não sei o que acontecerá, mas pretendo deixar as pessoas que lerem essas palavras à par dos acontecimentos que estão porvir nessa minha tentativa de uma nova experiência de vida.

 

Em frente.


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Soluções para um mundo congestionado

 

Cidade de Aracati-CE - Foto: Grupo Lua Cheia

Será possível começar uma nova vida aos cinquenta anos de idade? É essa a pergunta que venho me fazendo nos últimos anos. Por que faço tal pergunta? Não é difícil supor que para a grande maioria das pessoas no Brasil de uma forma geral trabalhar no que gosta é uma opção para poucos. Na grande maioria dos casos passa-se a ter afeição ou acomodar-se ao trabalho com o passar dos anos.

Tempo que tem amarrado muitos grilhões, em nome da ganância de poucos homens, aos pescoços da esmagadora maioria de outros seres humanos, não só do Brasil, mas como em todo o planeta. Vi, desde pequeno, o arrependimento nos olhos e nas palavras dos meus familiares na hora da reta final. Aquele sentimento de não ter de fato vivido, de ter muitas coisas ainda à serem feitas e que agora já não serão mais possíveis, de fato certo e consumado. A angústia e a dor dilaceraram meus ancestrais.

Respondendo à pergunta feita no início: não gostaria de passar por essas angústias. Mas será possível, já que vivemos em um mundo onde os conceitos, os estereótipos, as disputas de poder/riqueza, o individualismo são elementos fundantes das sociedades contemporâneas? Minha tendência (como sonhador e otimista profissional por necessidade) é acredita que sim!

Tendo em vista que a super lotação, a vida exaustiva de “zumbismo” que domina as grandes cidades. As tensões, as neuroses, a ansiedade/depressão, a poluição do ar e as doenças em decorrência desse tipo de vida que se consome como o riscar e apagar de um fósforo. Tendo suas recompensas em pequenas doses de lazer, quando existe uma possibilidade para isso, esse ritmo de vida tem consumido milhões e milhões de pessoas no planeta, assim como no nosso “braseiro”.

Fatores relacionados com a pandemia de 2019 e que nos atingiu no início do ano de 2020, foi marcado pela busca por alternativas para repensar a vida e desviar dos problemas da vida cotidiana urbana do nosso tempo.  Esse repensar levou ao início de um movimento que vem paulatinamente crescendo no Brasil: a saída das grandes cidades em busca de uma vida no campo.

A aproximação com a natureza, trajetos curtos para se transportar ao trabalho ou mesmo trabalhar em alguma atividade prática da vida rural ou em “home office” dentre tantas possibilidades.

Convido vocês a verem alguns números sobre este assunto. Pois de acordo com pesquisa divulgada pela TVBrasil, já no ano de 2021 mais de 1,5 milhões de brasileiros queriam mudar da cidade para as zonas rurais se tivessem a oportunidade. É preciso reconhecer que é um número bastante significativo de brasileiros que moram nas chamadas grandes cidades com esse desejo.

End. Eletrônico: TVBrasil https://tvbrasil.ebc.com.br/reporter-brasil/2021/04/pesquisa-quase-15-milhao-de-familias-querem-migrar-para-campo

Quando se dizia, ainda em 2020 acerca da pandemia de Covid-19, que a única coisa certa era que: o mundo jamais voltaria a ser o mesmo depois da pandemia. Pois é! E já está acontecendo um redirecionamento dos modos de vida, especialmente entre nós, em busca de mais contato com os modos completamente opostos. A busca por uma vida mais saudável diante do fracasso dos maléficos industrializados, segurança, tranquilidade e paz para viver.

Apenas essas questões e minhas questões de saúde, para mim pelo menos, têm movido o desejo dessa mudança. E olha que eu moro numa cidade considerada pequena, mas não foge à regra do desenvolvimentismo desgovernado, da falta de respeito ao meio ambiente e a população municipal. Sociedade antiga e já bem sedimentada, de difícil transformação sócio-cultural, ao meu ver, pelo menos nas próximas cinco décadas... e já não tenho mais tanto tempo.

Aliás, por falar em tempo de vida, sempre penso que o salário deveria ser baseado não só na venda pura e simples da mão-de-obra, mas também pelo bem mais precioso que temos: o tempo de vida humano. Então, em meus delírios de mundo melhor, o valor do trabalho deveria ter incluído aos seus cálculos o tempo de vida, um “produto” valioso e irreversível. É maluco pensar assim, mas não existe nada mais importante para quem vive do que viver plenamente.

Mudar de vida depois de muitas lutas parece assustador, afinal, não se tem tanta saúde e disposição quanto antes. No entanto, essas deficiências podem ser amenizadas pela experiência e pela maturidade do pensamento. Não sei o que vai acontecer, mas vou compartilhar essa experiência aqui.


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Turno noturno





É comum, por minha natureza, deixar certos detalhes dos acontecimentos da vida passarem desapercebidos, para só depois de dias, às vezes, refletir sobre alguns deles.  Uma cena que me marcou profundamente e na noite em que aconteceu não tive tempo de pensar muito, dando sequência ao trabalho diário.

Era uma sexta-feira à noite, onde funcionaram naquele ano três salas de aula ocupadas por uma turma de segundo ano e duas de terceiro do Ensino Médio. Nos demais dias da semana ainda funcionam mais duas salas com alunos do EJA, o ensino de jovens e adultos. Muitas histórias de vida e superação poderiam ser contadas naquelas cinco salas de aula do turno noturno, assim como outras turmas que por lá passaram.

O entardecer daquele dia já denunciava a possibilidade de chuvas à noite. Quando cheguei de volta à escola, notei que não havia nenhum ônibus escolar, além de poucas motos e bicicletas no estacionamento dos alunos. Não dei muita atenção, alguns moram próximo e vem a pé, além dos costumeiros atrasos, tolerados pois os alunos do turno noturno são quase todos trabalhadores.

Como de costume entrei e logo que o vigilante fechou os portões, comecei a contagem dos alunos. A quantidade de alunos é importante para que as cozinheiras possam fazer merenda suficiente para todos, ao mesmo tempo que é uma forma de eu estar junto a eles. Começo sempre pelo segundo ano regular, chegando na sala fiquei estupefato com a cena digna de fotografia: uma sala esvaziada, porém completamente cheia de significado e beleza. A nobre professora senta na frente do birô e na sua frente uma única aluna, que ouvia suas palavras com atenção.

A cena me causou um impacto profundo pela sua plasticidade e riqueza. Fiquei tão absorto que não me passou pela cabeça registrar aquela imagem. Somente no dia seguinte me veio novamente a imagem na minha cabeça, não pude de deixar de pensar em quais motivos animavam a obstinação daquela jovem, aquela vontade de chegar a um lugar para escapar de outro. Seus olhos eram tristes e constantemente voltados timidamente para o chão, as expressões do roso não se alteravam entre sorrir ou encerrar as sobrancelhas, não. Ela não demonstrava nada sobre si, um mistério pra mim que não a conheço pessoalmente, não sei de seus problemas, dilemas e objetivos.

 Espero que ela não desista.


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