A prática de Aproveitar-se



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A vida é surpreendente, principalmente, nesse modelo de sociedade em que estamos inseridos. Caso não tenha uma válvula de escape, somos levados a um estado doentio, de traumas e que vão se acumulando até se manifestarem fisicamente em forma de doenças.

Para que possamos viver uma vida mais saudável é necessário mais humanismo. Estamos vivenciando um período onde o egoísmo vem assumindo um caráter primordial para o empresário empreendedor de sucesso. Um estilo que não respeita os outros, está sempre pronto a atacar o outro, principalmente se o outro pensa diferente. 

Lembro que na pré-adolescência era estudado e incentivado o trabalho em equipe, o lema era "ninguém é uma ilha", entre outras ações na escola que reforçaram essa ideia de uma sociedade solidária.

Hoje, bem diferente, a ideologia neoliberal e seus modos de vida que giram em torno do aproveitar-se da ocasião. Aliás, aproveitar-se da ocasião vem sendo praticado no Brasil desde a formação das primeiras administrações da colônia.

Engana-se muito, quem usa a ideia do senso comum, montada pela História oficial, que o grande volume de presos e degredados que foram banidos para o recém Brasil foram responsáveis pela cultura do roubo. Esses não tinha meios e partiram, em muitos casos, para a formação de bandos de salteadores, isso quando não encontravam nenhuma ocupação.

Quem tinha os meios e as oportunidades eram os indivíduos que ocupavam os cargos da administração e seus representantes nas diversas hierarquias e cargos. Além disso, havia uma preocupação até do Bispado do Recife com relação as contas dos tributos coletados nas Paróquias.

Podemos observar esse fenômeno quando existe uma situação de emergência como foi na pandemia. O litro de alcoól custava aproximadamente R$  4,50, assim como vários produtos relacionados. Então, com a pandemia, o litro e álcool chegou a custar R$ 20,00. Esse é o aproveitar-se.

Temos também o exemplo do Rio Grande do Sul durante a catástrofe da enchete que matou e devastou cidades inteiras. Pessoas que se apoderaram das doações do governo para vender esses produtos aos desabrigados.

Aqui no Ceará, temos a comprovação da corrupção existente entre as mercadorias que eram levadas para os infames Redutos dos flagelados da seca de 1877/78/79. Foi compravado e ficamos estarrecidos com a crueldade dos fiscais dos Campos de Concetrçãoes que se aproitavam da situação para estuprar meninas, meninos e mulheres, por um prato de comida. Esse é o aproveitar-se dos brasileiros.

Recomendo o livro do nobre colega Cincinato Ferreira Neto na sua obra espetacular de pesquisa intitulada "A Tragédia dos Mil Dias - A seca de 1877-79 no Ceará". Infelizmente os últimos exemplares já estavam sendo vendidos, porém o autor me assegurou que tinha planos de outra tiragem deste trabalho já estava sendo pensado.

Muitas famílias hoje ricas, começaram suas fortunas nesses aproveitamentos, como é constatado a abertura de armazéns particulares com os produtos que seriam para o consumo dos flagelados.

Não sei se esse país ainda pode recuperar-se deste profundo trauma e do profundo costume que a nós foi imprimido. Passar por uma profunda depuração da sua mentalidade, não sei, que o futuro nos conte. Esse meu desconfiar está calcado no fato da solidez desse estamento sócio-cultural do Brasil.



             Pois penso que o desafio do Brasil é apagar essa sombra do individualismo neoliberal e começar a investir na humanização e colaboração de seu povo. Não haverá futuro para o Brasil que não passe pelo povo brasileiro.


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