Igreja Matriz de Russas - Imagem do site Ceará Nobre |
Neste
ano de 2023 o município de Russas comemora o seu 316º (Trecentésimo décimo
sexto) ano de criação da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário das Russas
(1707). Embora antes desta data já havia densidade populacional tanto de homens
brancos, assim como de negros e pardos em sua maioria.
No
pano de fundo religioso também havia divisões entre etnias. No caso das
Irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e dos Brancos. A primeira
irmandade criada foi a dos Pretos, antes mesmo da construção da atual Matriz em
1735, no ano de 1728. Dados obtidos pelos documentos transcritos no livro
“Capital e Santuário” (ARAÚJO; 1985), constando também no 1º Livro de Tombo de
Russas a criação da Irmandade de N. Senhora do Rosário dos Brancos, no ano de
1736.
A
data comemorativa da Padroeira de Russas nem sempre foi no dia 08 de outubro de
cada ano. Em 1925 o Papa Pio XII fez alterações nos dias comemorativos dos
santos da igreja católica, adaptando ao calendário gregoriano. Antes deste ano
a data era comemorada no dia 06 de janeiro, prolongando-se por vários dias até
chegar o dia 20 de janeiro, dia de São Sebastião. Outro importante símbolo da
fé russana no imaginário coletivo do seu povo.
Com
a conclusão da primeira igreja em 1707, foi criada também todas as instâncias
administrativas e canônicas na condução da mentalidade daquela sociedade em
construção. Disciplinar essa gente foi uma tarefa impossível, tendo em vista
indivíduos que desde a infância estão acostumados à violência daqueles tempos.
Sem nenhum tipo de Estado regulador presente, sistema judiciário ou força
coercitiva para aplicar aos moradores destes sertões o mínimo de justiça e
correição.
“....
Não existia ninguém que ousasse opor-se
às ambições e fúrias dos capitães-mores e moradores, que muitas vezes se
matavam uns aos outros, como acontecia na < Ribeira do Iagoaribe >, onde
constava que desde 1703 já tinha morrido mais de 600 homens brancos...” (p.
400). [1]
Sob o mesmo símbolo religioso, três etnias
começavam a se interligar culturalmente, mas não em pé de igualdade. Essa
relação, aliás, caracteriza a sociedade brasileira até hoje. Aqui, como em todo
o território dominado pela Coroa portuguesa, a tônica foi a do extermínio, tortura, escravização e conversão dos
povos indígenas e a exploração do trabalho escravo, a tortura e o assassinato dos povos negros.
Entre
conflitos sangrentos, acordos, concessões, imposições, traições e busca por
riquezas, estas comunidades foram sendo caldeadas e cunhadas à moda jaguaribana. É bom lembrar que quando falamos de Russas, precisamos pensar que naquele período
todos os territórios (hoje cidades) da Ribeira do Jaguaribe faziam parte dessa
Freguesia, estando submetidos aos mesmos modos e costumes de convivência.
É importantíssimo que o município de Russas comece, com seriedade, um trabalho de políticas de estruturação definitiva para manter viva a memória desses e de muitos outros acontecimentos importantes para a identidade. Nossos patrimônios material e imaterial dentro do aspecto cultural, assim como a preservação do nosso patrimônio natural. Hoje tão ameaçado quanto o cultural.
Pesquisar, arquivar, fomentar e formar uma sociedade capaz de valorizar suas belezas, riquezas e cultura. Somente depois disso estaremos preparados para dizer que estamos no século XXI.
[1] Os Manuscritos do Arquivo da Casa de Cadaval
Respeitantes ao Brasil. (Publicado em 1958).
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