Dom Lino Deodato: O Vigário de Russas - Uma imagem do século XIX



Imagem de arquivo pessoal: Cemitério Bom Jesus dos Aflitos - Russas, CE.

Em vários momentos da História russana houve muito desespero e dor. O pouco conhecimento dos hábitos de higiene ainda não existia da época, as suas atuações como medidas preventivas de várias doenças ainda estavam longe de serem descobertas e desenvolvidas. Nessas condições de vida eram bastante periódicos o aparecimento de ondas de epidemias que se espalhavam com muita facilidade e velocidade não só em Russas, mas em toda a região da Ribeira do Jaguaribe.

A partir da virada do século XIII e XIX a Igreja proibiu os enterros dentro das igrejas, como era costume antigo. A decisão foi tomada tendo em vista que em períodos de grandes epidemias, o que ocasionava um considerável número de mortos por dia, os cadáveres eram enterrados dentro da igreja Matriz e como diz os relatos da época “o cheiro desagradável da morte rodeava todo o entorno da igreja”.

 Para solucionar o problema foi construído um cemitério atrás da Matriz em 14 de janeiro de 1800. Cercado de madeira, com jardim e cruzes, além de ser bento oficialmente pelo Vigário diante dos fiéis. Só assim a população começou a aceitar, com algumas resistências, a idéia de seus parentes serem enterrados fora da igreja.

Durante a construção do prédio anexo ao fundo da igreja de N. Senhora do Rosário, chamado de Betânia na década de 1970, os trabalhadores encontraram várias ossadas durante as escavações do alicerce. Foram todos retirados e colocados em caixas sob os cuidados do Pe. Pedro de Alcântara. Este, informa que mandou depositar os restos mortais dos nossos ancestrais embaixo do novo altar da Betânia.

Outra causa do aparecimento dessas epidemias, pode ser atribuída ao desequilíbrio ambiental causado tanto pela ação do homem, como pelas secas ou enchentes. Para se ter uma ideia deste impacto o Rio Jaguaribe seca pela primeira vez em 1816. A partir de então, aumentou o número de epidemias durante o século XIX.

Foi nesse ambiente de grandes secas, grandes cheias e muitas doenças (principalmente cólera, febre amarela e peste bubônica), que nasce Lino Deodato Rodrigues de Carvalho (Dom Lino) em 1826. No ano de 1855, ele assume o cargo de Professor da Escola de Primeiras Letras, já como padre. Idealiza e acompanha a implantação do Cemitério Bom Jesus dos Aflitos, oficialmente inaugurado em 1859 (atual cemitério público).

Dom Lino Deodato Rodrigues de Carvalho
Imagem compilada
*

Na época era cercado com arame, somente em 1878 é construído o seu muro de alvenaria e contava apenas com um portão. Outra grande realização do Pe. Lino, além das igrejas de Quixeré e Palhano, foi a igreja de São Sebastião, 1872/73. Erguida para simbolizar a vitória do povo russano diante das epidemias que assolaram a nossa terra durante o século dezenove.




Dom Lino não teve a oportunidade de ver sua inauguração, por conta da viagem para São Paulo. No entanto, voltou pela última vez, um ano depois, em 1874, já como Dom Lino Deodato o 8º bispo de São Paulo, para ver a igreja do seu santo de devoção e padroeiro protetor do povo russano.

Igreja de São Sebastião - Russas, CE. Foto: Ivelto Silva

 Oração rezada por Dom Lino:

 

Ó Mártir de Cristo, Ó Santo Varão,

Livrai-nos da peste, São Sebastião.

Nasces-te no berço, do vil paganismo

Porém a Fé Santa, Vos deu o batismo

P’ra ser militar, Fostes escolhido,

De Deus para serdes mais favorecido.

Soldado Fiel, guerreiro, valente,

Tocado da Graça do Onipotente,

Então prisioneiro foste amarrado,

E, na laranjeira, de setas passado.” [1]


Achamos interessante transcrever aqui as primeiras páginas do Livro de Registro de Óbitos do Cemitério Bom Jesus dos Aflitos de Russas.

Página I – Termo de abertura:

Este livro há de servir para os termos de Óbitos das pessoas que se sepultarem no cemitério desta Vila como dispuserem o regulamento do mesmo o qual vai assinado e rubricado com minha rubrica que uso “Araújo” no fim leva o competente termo de encerramento. Vila de São Bernardo, 16 de fevereiro de 1859. ”[2]

“Nº.1- ‘Aos nove dias do mês de fevereiro de mil oitocentos e cinqüenta e nove, dei sepultura a dois cadáveres, párvolos, filhos legítimos de Joaquim José de Moura, e sua mulher Maria Maciel de Jesus, pardos desta Freguesia, sendo uma de nome Josefa de idade 6 para 7 anos e outra de nome José de 5 para 6 anos e acompanhou ordem do Sr. Vigário da Freguesia com os direitos pagos, os quais ficam sepultados nas covas nº. hum e dois da primeira divisão do Cemitério da Vila de São Bernardo.”[3]


 

 


[1] Alcântara, Pe. Pedro de; Capital e Santuário – Miragens Russano-Nordestinas; Ed. IOCE, 1986, pág. 207.

 [2] Rocha, Limério Moreira da; Russas: Sua Origem, Sua Gente, Sua História; Ed. Recife Graf, 1976. Pág. 136.

[3] Ibdem. 


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