Imagem de arquivo pessoal: Cemitério Bom Jesus dos Aflitos - Russas, CE. |
Em vários momentos da História russana houve muito desespero e dor. O pouco conhecimento dos hábitos de higiene ainda não existia da época, as suas atuações como medidas preventivas de várias doenças ainda estavam longe de serem descobertas e desenvolvidas. Nessas condições de vida eram bastante periódicos o aparecimento de ondas de epidemias que se espalhavam com muita facilidade e velocidade não só em Russas, mas em toda a região da Ribeira do Jaguaribe.
A
partir da virada do século XIII e XIX a Igreja proibiu os enterros dentro das
igrejas, como era costume antigo. A decisão foi tomada tendo em vista que em
períodos de grandes epidemias, o que ocasionava um considerável número de
mortos por dia, os cadáveres eram enterrados dentro da igreja Matriz e como diz
os relatos da época “o cheiro desagradável da morte rodeava todo o entorno
da igreja”.
Para solucionar o problema foi construído um
cemitério atrás da Matriz em 14 de janeiro de 1800. Cercado de madeira, com
jardim e cruzes, além de ser bento oficialmente pelo Vigário diante dos fiéis.
Só assim a população começou a aceitar, com algumas resistências, a idéia de
seus parentes serem enterrados fora da igreja.
Outra causa do aparecimento dessas
epidemias, pode ser atribuída ao desequilíbrio ambiental causado tanto pela
ação do homem, como pelas secas ou enchentes. Para se ter uma ideia deste impacto
o Rio Jaguaribe seca pela primeira vez em
Foi nesse ambiente de grandes secas,
grandes cheias e muitas doenças (principalmente cólera, febre amarela e peste
bubônica), que nasce Lino Deodato Rodrigues de Carvalho (Dom Lino) em 1826. No
ano de 1855, ele assume o cargo de Professor da Escola de Primeiras Letras, já
como padre. Idealiza e acompanha a implantação do Cemitério Bom Jesus dos
Aflitos, oficialmente inaugurado em 1859 (atual cemitério público).
Dom Lino Deodato Rodrigues de Carvalho Imagem compilada* |
Na época era cercado com arame, somente em
1878 é construído o seu muro de alvenaria e contava apenas com um portão. Outra
grande realização do Pe. Lino, além das igrejas de Quixeré e Palhano, foi a
igreja de São Sebastião, 1872/73. Erguida para simbolizar a vitória do povo
russano diante das epidemias que assolaram a nossa terra durante o século
dezenove.
Dom Lino não teve a oportunidade de ver
sua inauguração, por conta da viagem para São Paulo. No entanto, voltou pela última
vez, um ano depois, em 1874, já como Dom Lino Deodato o 8º bispo de São Paulo,
para ver a igreja do seu santo de devoção e padroeiro protetor do povo russano.
Igreja de São Sebastião - Russas, CE. Foto: Ivelto Silva |
Oração rezada por Dom Lino:
“Ó
Mártir de Cristo, Ó Santo Varão,
Livrai-nos
da peste, São Sebastião.
Nasces-te
no berço, do vil paganismo
Porém
a Fé Santa, Vos deu o batismo
P’ra
ser militar, Fostes escolhido,
De
Deus para serdes mais favorecido.
Soldado
Fiel, guerreiro, valente,
Tocado
da Graça do Onipotente,
Então
prisioneiro foste amarrado,
E,
na laranjeira, de setas passado.” [1]
Achamos interessante transcrever aqui as primeiras páginas do Livro de Registro de Óbitos do Cemitério Bom Jesus dos Aflitos de Russas.
Página I – Termo de abertura:
“Este livro há de servir para os termos de
Óbitos das pessoas que se sepultarem no cemitério desta Vila como dispuserem o
regulamento do mesmo o qual vai assinado e rubricado com minha rubrica que uso
“Araújo” no fim leva o competente termo de encerramento. Vila de São Bernardo,
16 de fevereiro de
“Nº.1- ‘Aos nove dias do mês de
fevereiro de mil oitocentos e cinqüenta e nove, dei sepultura a dois cadáveres,
párvolos, filhos legítimos de Joaquim José de Moura, e sua mulher Maria Maciel
de Jesus, pardos desta Freguesia, sendo uma de nome Josefa de idade 6 para 7
anos e outra de nome José de 5 para 6 anos e acompanhou ordem do Sr. Vigário da
Freguesia com os direitos pagos, os quais ficam sepultados nas covas nº. hum e
dois da primeira divisão do Cemitério da Vila de São Bernardo.”[3]
[1]
Alcântara, Pe. Pedro de; Capital e Santuário – Miragens Russano-Nordestinas;
Ed. IOCE, 1986, pág. 207.
[3]
Ibdem.
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