O ancião






O barro seco onde antes era lagoa cheia,
tem o mesmo signo das peles ressecadas
pelo sol que cavalga num piscar de tempo.
Nos olhos vagos, saudades e memórias.
Contemplam as belezas desse mundo com
um sentimento de tê-las já visto muitas vezes, e
mesmo assim, ainda surpreendem o coração.

Contudo: é bom viver e deixar que viva.

O corpo sofre mais pressão da gravidade
e os movimentos se limitam a novos limites.
Os sons dos carnaubais já não chegam com clareza,
parece chuva. Logo ergue os olhos pro céu,
mania de menino. Procurando nuvens-vida.
Ao constatar o azulão do tempo, bordado de nuvens
espalhadas pelos ventos mais altos: se benze.

Aquele movimento repetido milhares de vezes.
Olhar pro céu e se benzer. 
Na falta das águas do céu
as águas minam nos poros
aguando a pele pro vento secar.
São tantas as memórias guardadas que transbordam
nos açudes da alma e vazam pelas biqueiras dos olhos.

Contudo: é bom viver e deixar que viva.

Hider Albuquerque

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🐆 Rio das Onças 🐆
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